Ministro cabo-verdiano diz que mais ricos devem pagar custos das crises
O vice-primeiro-ministro cabo-verdiano, Olavo Correia, enumerou hoje as medidas tomadas pelo Governo para fazer face às crises e disse que os custos devem ser pagos por quem tem rendimentos mais altos.
© Lusa
Mundo Cabo Verde
"Quem tem rendimentos mais altos tem de contribuir para que Cabo Verde possa sair desta crise", afirmou o também ministro das Finanças, em conferência de imprensa, na Praia, após a assinatura com a Cabo Verde Interilhas de uma minuta de revisão do contrato de concessão do serviço público de transporte marítimo de passageiros e cargas.
A assinatura aconteceu no mesmo dia em que entraram em vigor os novos preços das tarifas dos transportes marítimos em Cabo Verde, com um aumento de 80% para cidadãos não residentes e 20% para residentes.
Uma das justificações para os aumentos foi a "inflação acumulada desde a última atualização, devido aos efeitos da crise económica, causada pela pandemia da covid-19, à guerra no leste europeu e ao aumento significativo no custo dos transportes, que ditaram uma subida substancial do preço dos combustíveis, agravando a níveis insustentáveis a estrutura dos custos das empresas armadoras nacionais".
Questionado sobre se esses mesmos motivos seriam suficientes para aumentos salariais no país, o número dois do Governo começou por lembrar que a crise ainda decorre, com "custos enormíssimos" para todos.
Durante os últimos dois anos, Olavo Correia referiu que o Estado investiu na subsidiação dos preços, na produção, nas empresas, na proteção social e agora o país está a recuperar até mais rápido do que se esperava.
O ministro disse que "hoje, Cabo Verde é um país referenciado como sendo o país que está a sair mais cedo desta crise provocada pela pandemia da covid-19", exemplificando com o facto de ter crescido 7% em 2021 e 17% em 2022.
"Isso é graças ao trabalho feito pelo Governo, porque, caso contrário, nós teríamos uma eclosão social. Portanto, estamos a recuperar graças ao esforço da Nação cabo-verdiana", disse, enfatizando a proteção dos mais pobres.
"Alguém tem de pagar esta crise. Eu sou ministro das Finanças, não prometo populismo", prosseguiu, recusando a possibilidade de aumentos salariais generalizados, uma reivindicação dos sindicatos dos trabalhadores, que já marcaram manifestações para o próximo dia 01 de maio.
Mas lembrou que no Orçamento do Estado para 2023 houve aumento do salário mínimo de 13.000 para 14.000 escudos (117 para 126 euros), a atribuição da pensão social a mais 3.000 idosos e o aumento expressivo do investimento em serviços essenciais e infraestruturas públicas.
"E se forem necessárias mais medidas adicionais, tomaremos, agora o Governo não pode e não tem condições para estar a tomar medidas genéricas para compensar todo o custo da pandemia e a guerra na Ucrânia em relação a todos os cidadãos cabo-verdianos, porque isso seria [...] uma explosão do próprio Estado de Cabo Verde", explicou.
Dando conta que nos últimos dois anos o Governo investiu mais de 80 milhões de euros para socorrer as famílias mais carenciadas, Olavo Correia entendeu que deve haver um "sistema de compensação", em que quem tem rendimento mais alto compensa quem tem rendimento mais baixo.
O ministro afirmou, no entanto, que o Governo está atento para, em função das implicações, tomar mais medidas adicionais que vierem a mostrar-se necessárias.
"O mundo está imprevisível, o cenário está incerto e nós temos de estar todos os dias a ver as consequências e procurar tomar a melhor decisão", insistiu.
Cabo Verde recupera de uma profunda crise económica e financeira, decorrente da forte quebra na procura turística -- setor que garante 25% do Produto Interno Bruto (PIB) do arquipélago -- desde março de 2020, devido às restrições impostas para controlar a pandemia de covid-19.
O país registou em 2020 uma recessão económica histórica, equivalente a 14,8% do PIB, seguindo-se um crescimento económico de 7% em 2021, impulsionado pela retoma da procura turística no quarto trimestre.
Devido às consequências económicas da guerra na Ucrânia, o Governo cabo-verdiano reviu de 6% para 4% a perspetiva de crescimento económico em 2022, mas já no final de outubro voltou a rever essa previsão para pelo menos 8% e no final de dezembro para mais de 10%.
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