"A MSF não vai retirar-se do Sudão. Continuamos empenhados em prestar cuidados médicos e humanitários muito necessários à população neste momento difícil, mas precisamos fazê-lo com garantias de segurança adequadas", disse Jairo González, diretor executivo desta organização não-governamental (ONG) para a África Oriental.
Devido aos intensos combates, sobretudo na capital, Cartum, entre o Exército e os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês) paramilitares, explicou a mesma fonte, "parte" das equipas foi deslocada para "locais mais seguros" dentro e fora do Sudão.
"Neste momento, a segurança dos nossos funcionários, bem como dos nossos pacientes, é a mais alta das nossas prioridades", frisou, apelando às partes em conflito para que "respeitem as suas obrigações ao abrigo do direito humanitário".
Os MSF estão a estudar "como expandir a resposta em locais onde é seguro fazê-lo" e vão continuar com as suas atividades na medida das suas possibilidades, sublinhou Jairo González.
Nesse sentido, o responsável apelou ao exército e ao grupo RSF para "garantirem a segurança do pessoal médico e das instalações de saúde, facilitar os movimentos dos que prestam assistência humanitária, das ambulâncias e dos civis que necessitam cuidados de saúde".
González explicou que a "intensidade" do conflito impede os MSF de atender as pessoas afetadas pelos combates em Cartum desde 15 de abril, e há mais de uma semana não conseguem aceder aos armazéns e escritórios para obter suprimentos para abastecer os centros de saúde que ainda estão operacionais, que estão "sobrecarregados".
"Muitas pessoas, incluindo profissionais de saúde, estão retidas, sem poder deslocar-se, há mais de dez dias", explicou.
Desta forma, o diretor executivo da ONG lamentou que as sucessivas tréguas anunciadas "não tenham sido respeitadas", exceto "algumas horas" durante o dia de domingo.
Num retrato da situação, Jairo González adiantou que "o único hospital ainda em funcionamento no Darfur do Norte e a contar com o apoio dos MSF continua a receber um grande número de feridos" e as equipas "trabalham dia e noite para tratar as 389 pessoas que o hospital recebeu nos últimos dez dias".
Um total de 53 pessoas morreram naquele hospital devido à gravidade dos seus ferimentos ou à falta de recursos para tratá-las.
"Os suprimentos estão a acabar", disse, acrescentando que também estão a tratar feridos e outros pacientes no Nilo Azul, Darfur Ocidental, Darfur Central, Gedaref e Kassala e Omdurman, adjacente a Cartum.
González lamentou que em outras partes do país não tenha sido possível manter o trabalho devido aos combates, e não só a ataques mas ao saque de material pertencente à ONG.
De acordo com os dados mais recentes das Nações Unidas, pelo menos 427 pessoas foram mortas e mais de 3.700 pessoas ficaram feridas desde o início do conflito.
Os combates duram há 12 dias entre o grupo paramilitar, liderado pelo general Mohamed Hamdane Daglo, e as forças armadas, chefiadas pelo líder de facto do Sudão, Abdel Fattah al-Burhan, dois generais que organizaram o golpe de Estado em outubro de 2021 e que estão agora envolvidos numa guerra pelo poder.
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