"Com o Sudão à beira de uma catástrofe humanitária, reitero os apelos da ONU a uma cessação imediata das hostilidades, para que possamos chegar às pessoas mais afetadas", frisou António Vitorino, num comunicado divulgado em Genebra.
Vitorino advertiu que "a já difícil situação humanitária no Sudão se agravou ainda mais nas últimas semanas", com milhares de "pessoas vulneráveis" incapazes de escapar das zonas mais afetadas pelos combates.
António Vitorino referia-se aos combates desencadeados desde 15 de abril entre o exército e o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês), um conflito que já fez pelo menos 550 mortos e mais de 4.200 feridos e obrigou milhares de sudaneses a deslocarem-se para zonas mais seguras do país ou a refugiarem-se em nações vizinhas como o Sudão do Sul, o Egito ou o Chade.
Os combates iniciaram-se após semanas de tensão sobre a reforma das forças de segurança nas negociações para a formação de um novo governo de transição.
Ambas as forças estiveram por trás do golpe conjunto que derrubou o executivo de transição do Sudão em outubro de 2021.
"Estima-se que mais de 334.053 pessoas (66.811 agregados familiares) tenham sido deslocadas internamente, 72% das quais nos estados do Darfur Ocidental e Darfur do Sul. Antes da crise, o Sudão já tinha 3,7 milhões de pessoas deslocadas no país. Para além disso, mais de 115.000 pessoas atravessaram para os países vizinhos", acrescentou.
O diretor-geral da OIM alertou que o mundo "não pode fechar os olhos a esta crise".
"É imperativo que nós - enquanto agências da ONU, doadores, indivíduos e governos - atuemos coletivamente e apoiemos o povo do Sudão e dos países vizinhos", continuou.
António Vitorino felicitou os países vizinhos por continuarem a manter as suas fronteiras abertas às pessoas que fogem do Sudão e apelou à intensificação dos esforços para melhorar as condições nos pontos de fronteira para "facilitar os movimentos e as operações de ajuda humanitária".
"Deixem-me ser claro. Não abandonámos nem abandonaremos o Sudão. A OIM faz parte do núcleo de operações da ONU em Porto Sudão e criou uma equipa de resposta a crises em Nairobi, pronta a ser enviada para o Sudão logo que possível", concluiu.
O exército e as RSF realizam hoje o terceiro e último dia de uma trégua, a terceira consecutiva, apesar de se continuarem a registar confrontos.
O Sudão do Sul, país vizinho e mediador desta trégua, anunciou hoje que os dois chefes militares rivais, os generais Abdel Fattah al-Burhan e Mohamed Hamdan Dagalo, acordaram em princípio numa trégua de sete dias a partir de quinta-feira.
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