Numa reunião do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre confiança e sustentação da paz, Volker Turk referiu-se à situação que o Haiti atravessa, considerando ser necessária uma "ação urgente".
"Visitei o país em fevereiro. Está suspenso à beira de um abismo. A falta de capacidade do Estado para cumprir os direitos humanos corroeu completamente a confiança das pessoas. O contrato social entrou em colapso. A anarquia atual é uma emergência de direitos humanos que exige uma resposta robusta", avaliou o representante.
De acordo com o alto comissário, que falou através de videoconferência, há uma necessidade imediata de apoiar as instituições do Haiti, através do destacamento de "uma força de apoio com prazo determinado, especializada e em conformidade com os direitos humanos" e com um plano de ação abrangente.
"O desafio de longo prazo é a construção de instituições robustas que cumpram os direitos humanos", frisou.
Na semana passada, a enviada especial da ONU para o Haiti, Maria Isabel Salvador, já havia pedido o envio imediato de uma força internacional especializada para conter a escalada de violência associada a grupos armados organizados (gangues), bem como para apoiar o desenvolvimento da polícia local, atualmente mal equipada e com poucos agentes.
Contudo, apesar dos apelos, nenhum membro do Conselho de Segurança da ONU mostrou interesse em liderar tal força internacional.
Maria Isabel Salvador, que foi nomeada para o cargo de enviada da ONU no mês passado, alertou que atrasos no envio desta força podem levar a um aumento da insegurança em toda a região.
Desde o assassinato do Presidente Jovenel Moise em julho de 2021, os gangues no Haiti tornaram-se mais poderosos e violentos.
Em dezembro, a ONU estimou que os grupos armados organizados controlavam 60% da capital do país, mas a maioria das pessoas nas ruas de Port-au-Prince diz que esse número está próximo dos 100%.
A par da violência, o país também atravessa uma crise política.
Após o término dos mandatos dos 10 senadores que ainda restavam no Senado, em janeiro passado, o país está totalmente desprovido de instituições democraticamente eleitas.
O Senado era a última instituição democraticamente eleita no país, que não consegue realizar eleições legislativas desde outubro de 2019.
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