Conflito no Sudão agrava níveis recorde de tensões humanitárias na região
O Sudão e sete países fronteiriços contavam mais de 13 milhões de refugiados e deslocados internos antes de eclodir a guerra, que veio agravar níveis já recorde de tensões humanitárias, alerta o Centro de Estudos Estratégicos de África.
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Mundo Sudão
Numa análise das tensões de cada um dos países, a organização lembra que mais de 40 milhões de pessoas nestes países -- Sudão, Sudão do Sul, Etiópia, Chade, República Centro-Africana, Eritreia, Líbia e Egito -- já enfrentavam uma situação de insegurança alimentar aguda.
O conflito iniciado a 15 de abril no Sudão e a fuga de sudaneses e refugiados (o país acolhia cerca de um milhão de refugiados de países vizinhos) "sublinha os efeitos agravantes que cada uma das crises da região tem sobre as outras" e "colocou em turbulência uma região que já se debatia com níveis recordes de tensões humanitárias", alerta este organismo que estuda questões de segurança relacionadas com África.
"Os recursos para ajudar estas populações serão agora ainda mais escassos", refere, numa análise a que a Lusa teve hoje acesso, onde foca os "fatores de tensão" que cada um desses países já enfrentava.
O Chade já acolhia quase 600.000 refugiados, 400.000 dos quais da região sudanesa do Darfur e outros 400.000 deslocados internos devido à sua própria instabilidade, e recebeu mais de 30.000 pessoas que fugiram do Sudão desde que ali começou o conflito.
Após a morte do anterior Presidente, Idriss Déby, em batalha com um grupo armado da oposição em 2021, os militares chadianos instalaram o seu filho, o general Mahamat Idriss Déby, no cargo e a violenta repressão contra manifestantes que pediam a restauração da ordem constitucional, em outubro de 2022, gerou outra onda de refugiados e deslocados internos deste país do Sahel.
Outros quase 30.000 refugiados sudaneses terão atravessado a fronteira para o Sudão do Sul, país de origem de muitos deles já que, durante a maior parte dos seus 10 anos de existência, esteve numa guerra civil, levando mais de um terço da população a deslocar-se -- 2,2 milhões como deslocados internos e 2,3 milhões como refugiados. Cerca de 810.000 tinham fugido precisamente para o Sudão.
Dos restantes oito milhões de sul-sudaneses, 7,8 milhões enfrentam insegurança alimentar aguda e 43.000 a fome, num país que "continua numa situação de crise persistente", sublinham os responsáveis pela análise feita por este organismo ligado ao Departamento de Defesa dos Estados Unidos.
O Egito, ponto de trânsito e destino para migrantes em dificuldades noutras partes da África, acolhe quase nove milhões e tem sido a mais importante rota dos refugiados que fogem do Sudão, recebendo mais de 60.000 pessoas, segundo os dados mais recentes da agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).
Anfitriã da terceira maior comunidade de refugiados na região (depois do Uganda e do Sudão), com quase 900.000, a Etiópia está desde 2020 envolvida em conflitos internos, principalmente na região de Tigray.
Os refugiados etíopes nos países vizinhos totalizam perto de 145.000, o número de deslocados internos é de cerca de três milhões e "estima-se que 20 milhões de etíopes enfrentam uma insegurança alimentar aguda", lê-se no documento.
Apesar da escalada dos confrontos no Sudão, poucos etíopes regressaram e poucos sudaneses atravessaram para a Etiópia, mas migrantes de outros países aproveitaram a fronteira etíope para fugir do Sudão, sendo a soma de todos de cerca de 10.000.
Outros tantos fugiram do Sudão para a República Centro-Africana, país de onde 750.000 habitantes fugiram do conflito para os países vizinhos, incluindo mais de 24.000 para o Sudão.
Quase metade da população (cerca de três milhões) da República Centro-Africana enfrenta uma insegurança alimentar aguda, principalmente devido a conflitos.
De dois outros países de fronteira com o Sudão -- Líbia e Eritreia -- não há para já registo de refugiados do conflito, mas "provavelmente por dificuldades de acesso a estas zonas fronteiriças", admite o Centro de Estudos Estratégicos de África.
A Líbia, país de trânsito para migrantes e refugiados que fogem de conflitos e da repressão do Sahel Ocidental e de outras partes de África, estima-se que conte mais de 660.000, muitos sujeitos a abusos por parte de traficantes de seres humanos.
O país enfrenta um conflito político prolongado, já que milícias ligadas a Khalifa Haftar, baseado no leste, tentaram repetidamente derrubar o Governo apoiado pela ONU em Trípoli.
Ou seja, conclui este organismo que estuda questões de segurança relacionadas com África, o conflito entre as Forças Armadas sudanesas, comandadas pelo general Abdel Fattah al Burhan, e as Forças de Apoio Rápido (RSF), chefiadas pelo general Mohamed Hamdan Dagalo, "colocou em turbulência uma região que já se debatia com níveis recordes de tensões humanitárias".
Desde o início do conflito no Sudão, o ACNUR estima que mais 300.000 sudaneses foram deslocados internamente, enquanto mais de 140.000 fugiram para o Egito, Chade, Sudão do Sul, Etiópia e República Centro-Africana, e o número de refugiados derivados do conflito pode chegar aos 800.000.
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