"O problema do tráfico de droga na Guiné-Bissau não existe. Para mim, é uma falsa questão", disse em entrevista à agência Lusa, em Lisboa, o líder do Movimento para Alternância Democrática (Madem-G15), justificando que "não é um país produtor de droga" nem "um país consumidor de droga".
No entanto, reconheceu as fragilidades da Guiné-Bissau para combater este tipo de flagelo. "Por isso mesmo é que nós nos colocámos à disposição da comunidade internacional para abrirmos as nossas portas, juntarmo-nos para todos juntos combatermos aquilo que consideramos um flagelo global, um problema global e os problemas globais exigem soluções globais e nós, enquanto autoridade, estamos disponíveis para colaborar, para que possamos combater este mal que não é da Guiné-Bissau, é de todo o mundo", disse.
O candidato às eleições legislativas de 04 de junho pelo partido atualmente no poder referiu que, em comparação, há mais apreensões de droga em Portugal do que na Guiné-Bissau.
"Se o próprio Portugal é confrontado noite e dia com a situação da apreensão de droga, com toda a tecnologia existente, com todos os meios existentes, quem somos nós para dizer que não podemos ser confrontados com este problema", questionou.
Num relatório divulgado em 16 de março deste ano, o Escritório das Nações Unidas para as Drogas e o Crime (UNODC) referiu que a Guiné-Bissau continua com "potencial contínuo" para ser usada para o tráfico de cocaína.
"Nos últimos anos, a Gâmbia, o Senegal e Portugal classificaram a Guiné-Bissau entre os principais países de proveniência de carregamentos de cocaína apreendidos", refere o UNODC, acrescentando que a cocaína da Guiné-Bissau chega ao Mali via Senegal ou Guiné-Conacri, utilizando a cidade senegalesa de Tambacounda.
A Polícia Judiciária da Guiné-Bissau apreendeu, em setembro de 2019, 1.869 quilogramas de cocaína, a maior apreensão feita no país, e deteve 12 pessoas, entre nacionais e estrangeiros, que foram condenadas pelo Tribunal Regional de Bissau em 2020, incluindo Braima Seidi Bá e Ricardo Ariza Monges, alegados cabecilhas, que acabaram mais tarde absolvidos pela Câmara Criminal do Supremo Tribunal de Justiça.
Uma outra operação, realizada em março de 2019, levou à apreensão de 800 quilogramas de cocaína e à detenção de vários homens e um painel de peritos do Conselho de Segurança da ONU ligou aquela droga a um cidadão maliano sancionado por utilizar o tráfico de droga para financiar o terrorismo, nomeadamente a Al-Mourabitoun, filiada da Al-Qaida.
Questionado sobre a vulnerabilidade da Guiné-Bissau, que sempre foi conhecida pela boa convivência inter-religiosa, ao extremismo, Braima Camará considerou que "problema é inexistente".
"É um problema completamente ausente, temos um país espetacular, um povo ímpar, um povo único, eu próprio sou muçulmano, a minha mulher é católica, a minha avó é animista", exemplificou, referindo que a isso se chama "a guineendade", pautada pela "tolerância, humildade, boa convivência".
No último relatório do Departamento de Estado sobre liberdade religiosa no mundo, lançado em junho de 2022, os Estados Unidos alertaram para as preocupações manifestadas por líderes religiosos guineenses sobre o "alastrar do extremismo religioso" no país.
"Alguns desses líderes acusaram o Governo de não fazer o suficiente para combater a ameaça do extremismo e um deles alertou que uma percentagem pequena, mas crescente, de mesquitas e escolas islâmicas no país, financiadas por islamitas sediados no estrangeiro, eram potenciais incubadoras de radicalismo, promovendo ideias que conflituam com as tradições mais moderadas das restantes mesquitas do país", lê-se no relatório.
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