Em declarações à agência Lusa por ocasião da celebração dos 75 anos da fundação do Estado de Israel -- 14 de maio de 1948 --, Pathé Duarte salientou não se poder dissociar a efeméride da atual escalada do conflito israelo-palestiniano, que, entre terça e sexta-feira, provocou a morte a mais de 30 palestinianos e a um israelita.
Questionado sobre se a questão israelo-palestiniana tem solução a curto/médio prazo, quando Israel cumpre 75 anos de vida, o académico da NOVA School of Law de Portugal excluiu essa possibilidade.
"Dificilmente terá solução a curto ou médio prazo. As soluções políticas e diplomáticas estão demasiado presas a ortodoxias e a sectarismo identitários que tornam quase impossível o consenso. Depois, o conflito israelo-palestiniano serve sempre como elemento expiatório para outras potências regionais", sustentou.
Perante inúmeras movimentações regionais, com Arábia Saudita, Irão, Síria e outros países que aparentam estar a redesenhar o Médio Oriente, e tendo em conta que Israel com o atual governo de extrema-direita pode tornar-se num "alvo apetecido", Pathé Duarte defendeu que o futuro passará pelo "desgaste" do executivo de Netanyahu, que poderá levar a uma eventual queda.
A pressão sobre Netanyahu "é demasiada" e há movimentos antigovernamentais "que não saem da rua", o que, para Pathé Duarte, "só abona em favor da cultura democrática de Israel".
"Porém, estes confrontos recentes em Gaza com a Jihad Islâmica da Palestina poderão criar um sentimento de maior união, beneficiando politicamente Netanyahu. A retaliação palestiniana será significativa. E ainda não é claro se o Hamas se vai juntar", sustentou.
Sobre se os Acordos de Abraão, face às últimas circunstâncias, poderão ser 'rasgados', Pathé Duarte achou "difícil" que tal aconteça.
"Não me parece. A normalização das relações com Israel tem sido uma solução de interesse para todos, menos, talvez, para o Irão. E mesmo este aparente volte-face entre Riade e Teerão tem de ser lido com cuidado, porque não sabemos até que ponto é verdadeiramente uma aproximação funcional", explicou.
"Riade tem vindo a perder interesse na disfunção política da Palestina. Porém, este novo governo de Israel alarmou os sauditas. Embora mantenham laços secretos, creio que a normalização entre a Arábia Saudita e Israel dependerá, em muito, de Washington", acrescentou Pathé Duarte.
O analista de política internacional afirma que no Médio Oriente "todos procuram o aumento da esfera de influência: Irão e Rússia, no caso da Síria, mas também outros atores, como a China e a Turquia.
"Mas será sempre uma zona de instabilidade. E este ano não será muito diferente, sobretudo se juntarmos, entre outras variáveis, o colapso do acordo nuclear com o Irão, a transferência de armamento iraniano para a Rússia, a volatilidade económica da Turquia, as tensões diplomáticas no Conselho da Cooperação do Golfo ou o crescente interesse chinês", concluiu.
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