"Nenhum civil de Moura perdeu a vida durante a operação militar", declarou o porta-voz do governo, coronel Abdoulaye Maiga, numa declaração lida na televisão estatal.
Na sexta-feira, as Nações Unidas acusaram o exército maliano e combatentes estrangeiros de terem executado pelo menos 500 pessoas durante uma operação anti-terrorista em Moura, no centro do Mali, com base num relatório do Alto-Comissariado para os Direitos Humanos.
O massacre teria vitimado cerca de 20 mulheres e sete crianças, segundo o mesmo relatório.
Por seu lado, o porta-voz do governo do Mali, classificou o relatório de "tendencioso, baseado num relato fictício": "Entre os mortos, havia apenas combatentes terroristas", acrescentou Abdoulaye Maiga.
Na resposta, o governo do Mali afirmou ter tomado conhecimento "com choque" de que a missão de investigação da ONU tinha utilizado satélites sobre Moura para obter imagens "sem autorização e sem o conhecimento das autoridades malianas".
O executivo adiantou ainda que irá "abrir imediatamente um inquérito" por "espionagem, atentado à segurança externa do Estado", bem como por "conspiração militar".
Tal como documentado no relatório, os acontecimentos em Moura, que têm sido objeto de versões contraditórias desde há um ano, estão entre os piores do género num país familiarizado com as atrocidades cometidas por terroristas e outros grupos armados desde 2012.
O alto-comissariado das Nações Unidas "tem motivos razoáveis para crer" que pelo menos 500 pessoas, incluindo cerca de 20 mulheres e sete crianças, foram "executadas pelas Forças Armadas do Mali e por militares estrangeiros [...] depois de a zona ter sido totalmente dominada" entre 27 e 31 de março de 2022, em Moura, refere-se no relatório, que se baseia numa investigação da divisão de direitos humanos da missão de manutenção da paz da ONU destacada no Mali desde 2013.
A agência da ONU diz que tem também "motivos razoáveis para acreditar que 58 mulheres e raparigas foram vítimas de violação e outras formas de violência sexual". O relatório relata, ainda, atos de tortura às pessoas detidas.
Estes atos podem constituir crimes de guerra e, "dependendo das circunstâncias", crimes contra a humanidade, afirmou Volker Türk, alto-comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, numa declaração.
O relatório não identifica explicitamente os estrangeiros, mas recorda declarações oficiais das autoridades do Mali sobre a assistência de "instrutores russos" na luta contra os terroristas e comentários atribuídos ao chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov, sobre a presença no Mali da empresa de segurança privada russa Wagner.
A ONU relata o testemunho dos seus investigadores, que descrevem estes estrangeiros como homens brancos, fardados e falando uma "língua desconhecida".
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