A presença de viaturas policiais que cortavam as duas faixas da avenida, dezenas de pessoas e numerosas câmaras de filmar e de microfones agrupados num palanque, aguardavam pela chegada do líder do Partido Republicano do Povo (CHP, social-democrata e nacionalista), que dirige desde 2010, e o grande desafio à permanência no poder do Presidente islamista conservador Recep Tayyip Erdogan.
Sempre acompanhado por um numeroso serviço de segurança, o candidato à presidência da Turquia, 74 anos, entrou no recinto da Escola primária Argentina (Arjantin Ilkokulu), situada no distrito de Çankaya da capital turca e dirigiu-se à assembleia de voto no interior, enquanto os apoiantes ecoavam "Kiliçdaroglu, tudo vai correr bem".
Passados poucos minutos regressou ao pátio, emitiu uma pequena declaração perante as dezenas de jornalistas, e partiu. "Oxalá que a primavera chegue neste dia e se prolongue para sempre".
Sila, 20 anos e estudante de Ciência Política está acompanhada pelo namorado e uma amiga e vai votar pela primeira vez, à semelhança de cinco milhões de jovens recém-recenseados e que também podem determinar o resultado do escrutínio.
"Não são apenas eleições, votamos pela nossa liberdade, pela liberdade das mulheres, pela liberdade para todos, houve um sismo neste país e votamos pelas pessoas afetadas, precisamos de outro líder. Espero que Kiliçdaroglu vença estas eleições", exprimiu-se, com largo sorriso.
"Penso que o tempo de Erdogan acabou. Espero que a primavera chegue com o nosso voto".
A fila de eleitores vai aumentando, já passa os portões da escola. Cá fora, logo à entrada, vende-se fruta, cerejas, alperces, laranjas, outro comerciante assa castanhas, uma carrinha trouxe ramos de flores.
Acompanhado pela mulher, Sedan, um militar da força aérea reformado, 65 anos, também se exprime em inglês e transpira confiança.
"O resultado é claro, Kiliçdaroglu vai vencer na primeira volta. Foram 20 anos muito deprimidos, muito difíceis, não podemos falar, partilhar ideias, foi muito difícil para nós. Estava preocupado pelos meus filhos, e por todos os filhos da Turquia. Agora, tenho a certeza que virá um tempo radioso, limpo", declara.
"O resultado destas eleições também será benéfico para todo o mundo. Por isso estou muito contente. Esperemos que amanhã continue a brilhar", acrescenta, um mote que une os milhões de apoiantes de Kiliçdaroglu, num dia de sol que parece auspicioso.
64 milhões de eleitores, incluindo a diáspora, votam em eleições legislativas e presidenciais definidas como determinantes para o país euro-asiático e que podem pôr termo a 20 anos de poder de Erdogan, 69 anos, primeiro-ministro entre 2003 e 2014, desde então chefe de Estado e que hoje exerce o seu voto em Istambul também em nome do seu Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), que com aliados garante maioria no atual Parlamento.
A diáspora turca, como destaque para a forte comunidade turca na Alemanha, votou 27 de abril e 07 de maio dispersa por 73 países, com afluência recorde.
Às presidenciais apresenta-se um terceiro e marginal candidato, Sinan Onan, proveniente da direita radical e que se apresenta pela Aliança Ancestral (ATA), conservadora e ultranacionalista.
As 190.000 assembleias de votos e que funcionam entre as 08:00 e as 17:00 (hora local, menos duas horas em Lisboa) estão distribuídas pelas 81 províncias do país, com 1/6 dos eleitores a votarem na região de Istambul.
O Conselho supremo eleitoral (Yüksek Seçim Kurulu,YSK) vai anunciar os resultados provisórios na noite de hoje, mas a contagem final oficial apenas será divulgada na próxima sexta-feira.
Para as eleições legislativas concorrem 24 partidos, a maioria em coligações para tentarem ultrapassar a barreira mínima dos 7% que permite a eleição de deputados para a Grande Assembleia Nacional (Parlamento), com 600 lugares.
Leia Também: "A primavera vai chegar". Líder opositor turco Kiliçdaroglu já votou