Rússia estará a escapar a sanções ocidentais através do Cazaquistão
A indústria militar e o exército russos continuam a receber 'drones' (aeronaves não-tripuladas) e componentes eletrónicos necessários para prosseguir a guerra na Ucrânia, graças ao apoio do Cazaquistão e outros países aliados, segundo uma investigação jornalística hoje publicada.
© REUTERS/Evgenia Novozhenina/File Photo
Mundo Guerra na Ucrânia
"Os números mostram que o Cazaquistão está a ajudar a Rússia a contornar as sanções" que lhe foram impostas pelo Ocidente por ter invadido, em fevereiro do ano passado, a vizinha Ucrânia e aí travar uma guerra de agressão há quase 15 meses, constatou a investigação realizada pelo portal digital Vazhniye Istorii (IStories) juntamente com a revista semanal alemã Der Spiegel.
O estudo revela que "desde o início da invasão russa, a importação de microeletrónica do Cazaquistão mais que duplicou".
"Segundo o Instituto Nacional de Estatística do Cazaquistão, em 2021, o país importou 'microchips' no valor de 35 milhões de dólares (32,3 milhões de euros, aproximadamente o mesmo que em anos anteriores), ao passo que em 2022, essas importações ascenderam a mais de 75 milhões de dólares (69,3 milhões de euros)", observou o portal.
O Vazhniye Istorii indicou que, enquanto as exportações cazaques de 'microchips' para a Rússia, em 2021, "foram de 245.000 dólares (226.500 euros), em 2022 já foram de 18 milhões de dólares (16,6 milhões de euros)".
"A mesma situação se observa com os 'drones': em 2021, o Instituto Nacional de Estatística do Cazaquistão nem sequer mencionou os 'drones' no seu relatório de importações e exportações; em 2022, o Cazaquistão importou 'drones' no valor de cinco milhões de dólares (4,6 milhões de euros) e exportou para a Rússia 1,2 milhões de dólares (1,1 milhões de euros) de 'drones'", destacou a investigação.
De acordo com o portal digital Vazhniye Istorii, a companhia cazaque Aspan Arba enviou mais de 500 'drones' para a Rússia em 2022, apesar de, segundo o seu perfil, dever fornecer esse tipo de equipamentos à indústria siderúrgica, à agricultura e aos serviços de emergências do Cazaquistão.
A empresa cazaque enviou estes 'drones' para a companhia russa Nebesnaya Mekhanica (Mecânica Celeste), ambas ligadas pelos respetivos diretores -- Ilya Goldberg e Mikhail Sapozhnikov --, uma vez que o primeiro, proprietário da Nebesnaya Mekhanica, foi um dos fundadores da Aspan Arba, dirigida pelo segundo e, por sua vez, Sapozhnikov, diretor da empresa cazaque, foi anteriormente coproprietário da empresa russa.
Segundo os circuitos de importação revelados pelo Vazhniye Istorii, os 'drones' chineses DJI que chegam às mãos do exército russo são adquiridos na China pela empresa neerlandesa DJI Europe BV, que os exporta para o Cazaquistão, de onde são enviados para a Rússia.
Por seu lado, os 'microchips' comprados a diversos fabricantes europeus pela distribuidora alemã Ellix-Sit percorrem um caminho semelhante para chegar à Rússia, através do Cazaquistão.
A União Europeia (UE), consciente desta situação, instou hoje os países da Ásia Central -- Cazaquistão incluído -- a não permitirem que a Rússia utilize os seus territórios e empresas para escapar às sanções ocidentais e prometeu apoio para mitigar o impacto que a guerra que Moscovo trava na Ucrânia possa ter nas suas economias.
"O nosso objetivo é enfraquecer e, em última instância, deter a maquinaria de guerra russa. E a UE leva muito a sério o impedimento da fuga a sanções", declarou o vice-presidente executivo da Comissão Europeia, Valdis Dombrovskis, no II Fórum Económico UE-Ásia Central, realizado em Almaty.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14,7 milhões de pessoas -- 6,5 milhões de deslocados internos e mais de 8,2 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra, que hoje entrou no seu 450.º dia, 8.836 civis mortos e 14.985 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.
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