As autoridades militares japonesas estão a reconsiderar a atual proibição dos seus efetivos em ter tatuagens, que continuam a ser um tabu no país, face aos dados recentes que o número de militares recrutados caiu 10% - e o país falhou o objetivo delineado para o mês de abril.
Apesar da crescente popularidade das tatuagens, para muitos no Japão, especialmente nas forças de segurança, estas continuam a ser muito associadas a organizações criminosas, nomeadamente os Yakuza, conhecidos pela sua arte corporal muito complexa.
O tópico chegou a ser sensível ao ponto de, antes de acolher o Mundial de Rugby de 2019, as autoridades terem considerado pedir aos jogadores para cobrir as suas tatuagens - algo que se tornou difícil e desrespeitoso de aplicar para jogadores de nações pacíficas, como Tonga, Nova Zelândia ou Fiji, onde as tatuagens tribais são uma parte integrante da cultura local.
Mas agora, explica a BBC News, com os jovens japoneses a tatuarem-se cada vez mais por razões triviais (ou simplesmente sem intenções criminosas), as Forças de Autodefesa do Japão (JSDF, na sigla em inglês) estão a reconsiderar a proibição. "Rejeitar candidatos simplesmente porque têm tatuagens é criar problemas em termos de aumentar a base de recursos humanos", argumentou à emissora britânica Masahisa Sato, um deputado do Partido Democrático Liberal, que faz parte do governo japonês.
Também Kazuhito Machida, o diretor da secretaria de estado do Ministério da Defesa responsável pelo recrutamento, defendeu que a proibição deve ser levantada, considerando ainda a reduzida natalidade e crise demográfica que afeta o país - o Japão tem 125 milhões de pessoas e houve menos de 800 mil nados vivos em 2022, menos dois milhões comparativamente a alguns anos na década de 1970.
O problema do recrutamento militar torna-se ainda mais preocupante quando o Japão procura duplicar o seu investimento em defesa, dado o crescimento do poderio chinês na região e a crescente ameaça nuclear norte-coreana. E esses fatores também têm contribuído para uma mudança de opinião relativamente à atitude pacifista japonesa, que ainda é um resultado da derrota do império totalitário na Segunda Guerra Mundial.
Não ficou esclarecido quando é que a decisão sobre as tatuagens será tomada.
O tabu sobre as tatuagens cresceu após o final da guerra, quando o cinema japonês pós-guerra passou a ficar repleto de histórias sobre os Yakuza nos anos 70 e 80 da década passada, fomentando assim o preconceito. As tatuagens, explicou à BBC o antropólogo Yoshimi Yamamoto, passaram a ser um sinónimo de medo, de tal forma que "o medo e a suspeita estenderam-se ao ponto de as pessoas com tatuagens serem banidas de algumas praias e banhos públicos".
Leia Também: Polícias obrigados a mostrar tatuagens para provar não ser de gangues