"Nem se consegue ver a Estátua da Liberdade", protestou Jack Wright às margens do East River, em Brooklyn. Este ex-advogado de 76 anos afirma ter "parado de fumar há 50 anos", mas diz que esta poeira o deixou a tossir como quando era fumador.
As máscaras usadas para evitar a covid-19 estão agora a reaparecer nas ruas de Manhattan, Brooklyn e Queens, como fez Hugh Hill, um morador da área que passeava hoje o seu cão no Central Park, o gigantesco pulmão verde da capital económica e cultural dos Estados Unidos.
Com os olhos e a garganta a "arder", este advogado de 43 anos diz que tem feito de tudo para não respirar demasiado este ar com o cheiro a madeira queimada.
"Não sei se é psicológico ou físico, mas sei que há vantagens em usar uma máscara mesmo que, obviamente, não possa prevenir tudo", disse à agência France Press (AFP).
Bem no centro de Manhattan, as condições atmosféricas pioram a cada hora: uma névoa alaranjada cada vez mais espessa tem tomado os arranha-céus e tornado o ar quase irrespirável para os funcionários dos escritórios da região.
Desde terça-feira, as autoridades municipais e estaduais vêm aumentando as mensagens de alerta para os nova-iorquinos sobre o impacto súbito e sem precedentes desses incêndios no Canadá, cuja intensidade e frequência estão ligadas às mudanças climáticas.
O senador Chuck Schumer, líder da maioria democrata no Senado em Washington, disse estar "triste ao ver que a cidade de Nova Iorque, que tradicionalmente desfruta de boa qualidade do ar, tem agora uma das piores do mundo por causa desses incêndios florestais" no Quebec, a 800 quilómetro ao norte da cidade.
Segundo a governadora do estado, Kathy Hochul, o índice de qualidade do ar caiu de "nocivo" para "muito prejudicial" e todas as atividades escolares e extracurriculares ao ar livre estão suspensas.
De acordo com o IQAir.com, que monitoriza os níveis de poluição em todo o mundo, o índice de qualidade do ar de Nova Iorque atingiu o recorde de 324 na tarde de quarta-feira, em uma escala de zero a 500. A concentração de micropartículas PM2.5 está num nível mais de dez vezes superior aos padrões da Organização Mundial da Saúde.
Também António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas - cuja sede é em Nova Iorque - recorreu às redes sociais para partilhar uma fotografia do céu alaranjado de Nova Iorque e para pedir ação contra as alterações climáticas.
"Esta é a visão hoje do meu escritório na sede das Nações Unidas na cidade de Nova York, enquanto a fumaça dos incêndios florestais no Canadá se move para o sul, diminuindo a qualidade do ar em grande parte do nordeste dos Estados Unidos. Isso é algo que mais e mais pessoas experimentam a cada ano em todo o mundo. Metade da humanidade está na zona de perigo de incêndios florestais e outros eventos climáticos extremos, como inundações, secas e tempestades extremas", escreveu.
"Com o aumento das temperaturas globais, a necessidade de reduzir rapidamente o risco de incêndios florestais é mais crítica do que nunca. Estamos a ficar sem tempo para fazer as pazes com a natureza, mas não podemos desistir", concluiu.
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