A Guiné-Bissau viveu um período da campanha eleitoral e que culminou com a votação para as legislativas no passado dia 04 e que coincidiu com a época da comercialização do caju, principal produto agrícola e de exportação do país, de que dependem cerca de 80% dos dois milhões de guineenses.
Durante a campanha eleitoral e em várias localidades do interior da Guiné-Bissau os agricultores lamentaram-se perante os líderes políticos sobre as dificuldades por não estarem a conseguir vender o produto.
Em entrevista à Lusa, o diretor da Coajoq, uma Organização Não-Governamental que trabalha com os agricultores na região de Cacheu, no norte da Guiné-Bissau, defendeu que a queda dos preços no mercado internacional e a campanha eleitoral estão a dificultar a comercialização do caju este ano.
Engenheiro agrónomo formado em Cuba, Leandro Pinto Júnior notou que a campanha eleitoral decorreu na mesma altura que era o pico do período da comercialização do caju, nos meses de março, abril e junho.
"Os agricultores estão a sofrer", observou o dirigente, salientando que este ano não conseguiram fazer "a pré-venda" da castanha, que consiste em comercializar pequenas quantidades para custear as despesas de preparação dos pomares.
Leandro Júnior não tem um número exato da quantidade da castanha produzida em Cacheu, mas notou que, a par de Oio, no centro, aquela região é onde existe a maior concentração de pomares do caju na Guiné-Bissau.
O dirigente da ONG disse que "muitos agricultores" estão com o produto armazenado em casa à espera de quem o compre.
Exorta o Governo "a montar uma estratégia para salvar a campanha" que, disse, deve passar pela sinergia entre os ministérios da Agricultura e do Comércio, caso contrário, admitiu que haverá fome nas comunidades.
Para minimizar a situação, observou o responsável, alguns agricultores estão a vender a castanha por 150 ou 200 francos CFA por quilograma (por 0,22 ou 0,30 euros) abaixo do preço fixado pelo Governo, 375 francos CFA (0,57 euros) o quilo.
Para piorar ainda mais a situação, Leandro Pinto Júnior apontou para a escassez da chuva este ano, o que está a impedir os camponeses de se lançarem na produção de culturas de ciclo curto.
Perante este cenário, o responsável propõe ao Governo a doação de sementes aos agricultores para que tentem cultivar a terra e ter rendimentos no mês de setembro.
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