"Vamos levar a cabo uma campanha eleitoral contra a guerra. E contra Putin. Simplesmente isso: uma campanha longa, tenaz, esgotante mas de grande importância, na qual instigaremos as pessoas contra a guerra", afirmou Navalny, num artigo publicado na sua página da Internet.
Segundo o opositor russo encarcerado, o conflito, desencadeado há mais de 15 meses pela invasão da Ucrânia pela Rússia, a 24 de fevereiro de 2022, causou "a degradação da economia e a queda do nível de vida [na Rússia], soldados criminosos e indigentes mobilizados, mortos e feridos".
"Trata-se de uma missão muito concreta, e o nosso trabalho será bem-sucedido, não tenho dúvidas", acrescentou.
Navalny recordou que hoje começou o seu novo julgamento, que considerou motivo para "apelar a todos para a ação e anunciar um novo projeto, muito importante: uma grande maquinaria propagandística, uma maquinaria da verdade" para lutar "contra as mentiras de Putin e a hipocrisia do Kremlin".
Indicou igualmente que o próprio julgamento, em curso num tribunal criminal da região de Vladimir, o mesmo lugar onde está a cumprir pena desde junho de 2022, "demonstra que um projeto como este é acertado e necessário".
Argumentou que está a ser julgado dentro de uma prisão porque Putin "teme a verdade" e, sobretudo, que esta chegue às massas.
"Na essência, a missão de fortalecer e prolongar o poder 'putinista' consegue-se amordaçando todos os que se atrevem a dizer a verdade", sustentou, denunciando que, nos últimos tempos, aumentou o número de medidas destinadas a proibir e ilegalizar organizações e silenciar qualquer opinião diferente.
A campanha, assegurou, não será nas ruas, em piquetes ou protestos, mas nas redes sociais, nos espaços digitais, já que "qualquer avozinha tem WhatsApp e Telegram" e vai até aprender a dominar os sistemas de inteligência artificial.
Para o efeito, convocou os primeiros cem voluntários "prontos para se dedicar a esta maravilhosa mas difícil causa".
"É um projeto a longo prazo. A derrota militar de Putin é inevitável. Mas ninguém sabe como será e quais serão as consequências", indicou, considerando que as cúpulas não cederão o poder e tentarão "fazer lavagem cerebral aos cidadãos".
A ofensiva militar lançada em fevereiro do ano passado pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14,7 milhões de pessoas -- 6,5 milhões de deslocados internos e mais de 8,2 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa -- justificada por Putin com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra, que hoje entrou no seu 481.º dia, 9.083 civis mortos e 15.779 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.
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