Da Ucrânia a África, Prigozhin estendeu grupo Wagner e alargou influência
A Wagner, uma empresa privada russa de segurança militar liderada por Yevgeny Prigozhin, foi criada em 2014 no conflito no leste da Ucrânia e anexação da Crimeia, e hoje está presente em vários pontos do mundo.
© Mikhail Svetlov/Getty Images
Mundo Rússia
Outrora conhecido como o 'chef' do presidente russo Vladimir Putin, Prigozhin e os seus mercenários passaram nos últimos anos a lutar em vários conflitos internacionais, estendendo os seus 'tentáculos' à Ucrânia, à Síria e, sobretudo, ao continente africano, com destaque para Mali, República Centro-Africana ou Líbia, marchando agora sobre território russo.
A história deste grupo paramilitar conta-se pelo apoio russo às tropas leais ao presidente Bashar al-Assad na guerra civil síria, pela suposta presença de mercenários no treino das forças que protegem o governo do Mali, e também pelo papel no comércio de "diamantes de sangue" oriundos de África e alegados ataques em solo líbio - como Tajoura e Al Zawiya, segundo a Procuradoria-Geral Militar daquele país.
Na ofensiva russa na Ucrânia, em fevereiro de 2022, o grupo assumiu um papel central.
A influência e os atos do grupo Wagner foram também acompanhados desde dezembro de 2021 de sanções da União Europeia (UE) devido a graves violações dos direitos humanos. Os mercenários foram acusados de alimentarem a violência, pilharem recursos naturais e intimidarem civis em zonas de conflito.
O grupo foi sancionado pelo Reino Unido em 2022, após o início do conflito na Ucrânia, e tinha sido também punido anteriormente pelos Estados Unidos da América devido à interferência nas eleições presidenciais americanas de 2016, que terminaram com a vitória do Republicano Donald Trump.
Os EUA asseguraram também que os mercenários teriam obtido "lucros ilícitos" em África para financiar a guerra na Ucrânia.
Quatro dias após a invasão russa, em 28 de fevereiro de 2022, o jornal The Times revelou que cerca de 400 membros do grupo Wagner tinham trazido vários milhares de mercenários de África para Kyiv, no mês anterior, com a missão de decapitar o governo de Volodymyr Zelensky e outros políticos, em troca de um elevado bónus financeiro. Os mercenários terão sido informados dos planos de invasão em dezembro, antes das próprias forças militares russas.
A preponderância deste grupo é visível nas regiões anexadas pela Rússia em solo ucraniano, como Lugansk (leste), onde ergueu em outubro de 2022 linhas fortificadas para travar a resposta das tropas de Kiev, no que é já designado como "linha Prigozhin" ou "linha Wagner". Um mês depois, Prigozhin instalou a sede do grupo em São Petersburgo.
Um dos marcos do grupo Wagner na guerra na Ucrânia foi a longa batalha por Bakhmut, que se arrastou por vários meses, culminando na retirada dos mercenários em 25 de maio de 2023, após a captura da cidade, deixando-a nas mãos das tropas regulares russas.
O combate por Bakhmut custou a vida a cerca de 20.000 mercenários, segundo admitiu o líder do grupo Wagner, por entre críticas a Moscovo pela falta de apoio e descoordenação na cúpula militar.
As tensões entre o grupo Wagner e Moscovo aumentaram nas últimas semanas e levaram agora a uma rebelião, com Prigozhin a reivindicar a ocupação de Rostov, cidade-chave no sul da Rússia para a guerra na Ucrânia, e a apelar à revolta contra o comando militar russo.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, qualificou a ação do grupo paramilitar de rebelião, afirmando tratar-se de uma "ameaça mortal" ao Estado russo e uma traição, garantindo que não vai deixar acontecer uma "guerra civil".
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