"A Rússia destruiu na Europa a ordem de paz baseada em regras", observam os serviços de informação suíços (SRC, sigla em francês) no seu relatório anual hoje publicado.
O SRC também é responsável pela contraespionagem na Suíça.
Esta destruição causada pela Rússia fez com que "fóruns internacionais para a promoção da paz e segurança coletiva, como a ONU e a Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), voltassem a perder a sua eficácia e uma nova ordem mundial estável não está no horizonte", disseram os serviços de informação suíços.
A isso, soma-se a tendência "para uma ordem mundial bipolar, marcada pela rivalidade sistémica entre Estados Unidos e China", segundo os suíços.
Portanto, "as atividades de espionagem estrangeiras, principalmente russas e chinesas, ainda representam uma grande ameaça para a Suíça", de acordo com o relatório.
Devido, entre outras coisas, ao seu papel de Estado anfitrião de muitas organizações internacionais, "a Suíça está entre os países europeus em que um elevado número de membros dos serviços de informação russos foram enviados sob cobertura diplomática".
"Das cerca de 220 pessoas acreditadas como funcionários diplomáticos ou técnico-administrativos nas missões russas em Genebra e Berna, provavelmente pelo menos um terço ainda trabalha para os serviços de informação russos", declarou Christian Dussey, responsável dos serviços de informação da Suíça numa conferência de imprensa.
Os serviços de informação suíços têm apenas 450 funcionários.
Genebra abriga a sede europeia das Nações Unidas, bem como a sede de muitas agências da ONU. É também na Suíça que se reúnem regularmente centenas de diplomatas para participar nas várias reuniões anuais destes organismos.
Segundo o relatório, são tantas as oportunidades para um espia se misturar à multidão, fazer contactos e recolher informações numa cidade onde também se encontram muitos financiadores, líderes económicos e políticos.
O mandato da Suíça no Conselho de Segurança da ONU -- desde janeiro de 2023 e pela primeira vez na sua história -- "aumenta a ameaça representada pela espionagem aos suíços" que trabalham em casos fraturantes do Conselho de Segurança, segundo o relatório.
Os suíços tornaram-se, segundo o documento, inevitavelmente alvos de espionagem.
A guerra na Ucrânia também está a forçar o SRC a concentrar-se em regiões que não estava a acompanhar para evitar que a Rússia contorne as leis que proíbem a exportação de armamento, contando com empresas sediadas na União Económica da Eurásia, mas também na Turquia ou Índia.
Dussey mostrou-se cauteloso sobre as lições a serem retiradas com a rebelião deste fim de semana dos mercenários do grupo Wagner sob as ordens de seu líder, Yevgeny Prigozhin.
"É um grande desafio interno" para a Rússia, disse.
A instabilidade de uma potência nuclear inevitavelmente preocupa, o que explica as reações dos países ocidentais, acrescentou o responsável das secretas da Suíça.
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