O adolescente afro-americano do Missouri, Ralph Yarl, que ficou gravemente ferido em abril após ter sido baleado na cabeça pelo dono da casa onde tocou à campainha por engano, contou agora como tudo aconteceu nesse dia.
O caso remonta a 13 de abril, quando Ralph ia buscar os irmãos mais novos a casa de uns amigos, em Kansas City, quando tocou à campainha da casa errada e foi atingido a tiro pelo proprietário. Os irmãos de Yarl estavam, na verdade, numa casa a um quarteirão de distância.
Em entrevista no programa Good Morning America e citada pela Associated Press esta terça-feira, a adolescente conta que não tinha conhecido a família dos amigos dos seus irmãos, "por isso pensou que talvez fosse a casa deles".
Depois de tocar à campainha relatou que esperou muito tempo no alpendre antes de a porta se abrir. "Vi um idoso e pensei: 'Oh, deve ser o avô deles'", referiu Yarl, agora com 17 anos. "E depois ele puxou a arma e eu fiquei tipo, 'Uau!'" e recuei", continuou, acrescentando: "Ele apontou-me a arma".
"E então aconteceu, e eu estava no chão. Caí em cima do vidro, do vidro estilhaçado. Quando dei por mim, estava a fugir, a gritar: 'Ajudem-me! Ajudem-me!", relatou.
Yarl estava a sangrar e disse que se perguntava como era possível ter levado um tiro na cabeça. O homem, que nunca tinha visto antes, disse-lhe apenas cinco palavras: "Nunca mais venhas aqui".
O atirador, Andrew Lester, de 84 anos, declarou-se inocente de agressão em primeiro grau e de ação criminosa armada.
Lester admitiu que disparou contra Yarl através da porta, sem aviso prévio, porque estava "a morrer de medo" de ser assaltado pelo rapaz afro-americano que estava à sua porta. Continua em liberdade depois de ter pago 20 mil dólares - 10% da sua caução de 200 mil dólares.
O tiroteio atraiu a atenção internacional, com alegações de que Lester recebeu tratamento preferencial dos investigadores depois de ter disparado sobre Yarl. O presidente Joe Biden e várias celebridades emitiram declarações apelando à justiça. O advogado de Yarl, Lee Merritt, apelou a que o tiroteio fosse investigado como um crime de ódio.
Dez semanas mais tarde, Yarl está fisicamente recuperado, mas diz que tem dores de cabeça e dificuldade em dormir e que, por vezes, a sua mente está simplesmente confusa. "Fisicamente ele parece bem. Mas há muita coisa que lhe foi tirada", referiu a mãe, Nagbe, em declarações no mesmo programa.
Yarl disse que está a consultar um terapeuta e espera continuar a sua recuperação, concentrando-se nas suas paixões pela engenharia química e pela música.
"Sou apenas um miúdo e não sou mais importante porque isto me aconteceu. Vou continuar a fazer todas as coisas que me fazem feliz. E vou viver a minha vida da melhor forma possível", frisou o adolescente.
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