"Nós estamos num processo. Foi claro aquilo que foi o propósito da comissão executiva da CGD e, obviamente, o nosso compromisso com Cabo Verde mantém-se e é um compromisso de longa duração", afirmou Nuno Martins, questionado pela Lusa à margem da inauguração, na Praia, da nova sede do Banco Interatlântico (BI), um dos dois que o grupo estatal português detém em Cabo Verde.
Nuno Martins, que é também presidente do conselho de administração do BI, insistiu que a venda do Banco Comercial do Atlântico (BCA), igualmente detido maioritariamente pela CGD e o maior de Cabo Verde, é um "processo em curso" e que no final a Caixa "ficará bem representada" no arquipélago, face ao "compromisso" assumido.
"Ele está aqui feito neste momento com duas instituições, no futuro vamos ver", disse, sem adiantar que seja possível que essa venda fique concluída ainda este ano: "Este processo está a decorrer e temos mantido o acionista informado, tem várias etapas, mas esperemos é que corra bem. E correr bem é correr bem para a Caixa, mas também correr bem para o país, para Cabo Verde, que queremos que tenha instituições fortes e instituições que sejam saudáveis para o país. O BCA é uma instituição de referência e, portanto, deve se tratar todo este processo com muita tranquilidade, com muita certeza que vai correr muito bem".
A nova sede do Banco Interatlântico, cujo investimento não foi revelado, resultou precisamente da compra de um edifício na cidade da Praia antes propriedade do BCA.
"O BI amanhã faz 24 anos. Tem uma história já aqui em Cabo Verde, mas sem dúvida que a inauguração deste edifício é uma nova página, é um novo percurso e o iniciar de uma nova trajetória (...) Será o início de uma nova etapa e, muito importante, aquilo que esperamos também seja importante para Cabo Verde e para o sucesso tanto do banco como do país", concluiu.
Na inauguração das novas instalações marcou presença o Presidente da República, José Maria Neves, que classificou o banco detido maioritariamente pela CGD como uma "boa instituição" de Cabo Verde, que "pode servir de referência" para o futuro do país.
O BI fechou 2022 com nove agências em todo o arquipélago e 163 trabalhadores e viu os lucros crescerem 8,9%, para para 307,8 milhões de escudos (2,8 milhões de euros).
A Lusa noticiou em 05 de junho que o BCA registou lucros recorde de 1.798 milhões de escudos (16,3 milhões de euros) em 2022, um aumento de 26,2% face ao desempenho de 2021, segundo o relatório e contas.
Através do Banco Interatlântico, que detém igualmente em Cabo Verde, a CGD controla 52,65% do BCA, ao que se soma uma participação própria de 6,76%. O Instituto Nacional da Previdência Social de Cabo Verde detém uma participação de 12,54% no BCA, entre outros acionistas.
O presidente do grupo CGD, Paulo Macedo, disse em 11 de maio que a instituição estava a recolher, durante o passado mês, propostas indicativas para a venda do BCA.
Em novembro, Paulo Macedo admitiu que a venda da sua participação no BCA poderia ser concluída este ano. Agora, o administrador espera que "desta vez seja possível aceitar estas propostas".
A CGD, detida pelo Estado português, anunciou em 2019 um processo de venda da participação no BCA, no âmbito do plano de reestruturação aprovado pela Comissão Europeia, optando por ficar no mercado cabo-verdiano apenas com o Banco Interatlântico, mas a pandemia de covid-19 acabou por condicionar todo o processo, que não avançou.
O sistema financeiro cabo-verdiano conta com oito bancos comerciais, mantendo-se o BCA como referência no setor, com maior volume de ativos e uma rede de 34 balcões em todo o arquipélago, além de 419 trabalhadores.
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