Uma reportagem da agência France Presse, no bairro de Naël, dá conta de um jovem às vezes 'borderline', com uma vida semelhante à de muitos outros jovens da cidade de Nanterre, nos arredores da capital francesa, entre a sobrevivência e pequenos percalços com a lei.
Fã de rap e motos, o jovem, que foi enterrado hoje no cemitério de Mont-Valérien, com a maior privacidade, foi criado sozinho pela mãe em Nanterre, a oeste de Paris.
Morava num bairro em construção na propriedade Pablo-Picasso, aos pé do distrito de La Defense, onde começaram os primeiros tumultos, na terça-feira, logo após o disparo de um polícia que lhe foi fatal, durante uma fiscalização de trânsito enquanto ele conduzia um carro alugado.
Durante uma marcha branca na quinta-feira em sua memória, o seu primeiro nome, Naël, serviu de grito de guerra para milhares de pessoas que viram no seu futuro destruído o símbolo do tratamento injusto que a polícia francesa tem contra os jovens da imigração norte-africana ou negra africana.
"Naël, ele era um jovem tranquilo. Ele cometeu delitos, de acordo, mas em que mundo é motivo para o matar?", protestou Saliha, 65 anos, moradora de seu bairro.
"Naël é filho de todos", disseram outros manifestantes durante esta homenagem que resultou em violência.
Devastada, a sua mãe, Mounia, descreveu o jovem como o seu "melhor amigo". "Foi tudo para mim", disse esta mulher que expressou a sua "revolta" enquanto se recusava a criticar toda a força policial.
"Não culpo a polícia, culpo uma pessoa: aquela que tirou a vida do meu filho", afirmou.
O eco de sua morte entoou muito além das fronteiras francesas e especialmente na Argélia, país de origem da sua família.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Argélia expressou a sua "consternação" e afirmou que Naël era um dos seus "cidadãos" com quem França tem um "dever de proteção".
O jovem, que também era muito próximo da avó materna, trabalhava como estafeta de entregas, segundo o advogado da família.
Também iniciou um "curso de inserção" na associação Ovale Citoyen, que acompanha os jovens através do desporto, e estabeleceu uma parceria com o clube de rugby de Nanterre.
A ficha criminal de Naël M. estava limpa, mas ele teve alguns desentendimentos com a lei por se recusar a obedecer, de acordo com o promotor de Nanterre, segundo o qual ele deveria comparecer no tribunal de menores em setembro.
Segundo as autoridades, foi a sua condução perigosa na terça-feira que justificou o controlo policial que lhe foi fatal.
"Para mim, Naël foi o exemplo típico do jovem do bairro, fora da escola, às vezes marginal, mas não um ladrão de estrada, e que tinha vontade de sair dela", testemunhou Jeff Puech, presidente do Ovale Citoyen, nas colunas do diário Sud-Ouest.
"Ele ia construir um novo futuro", garantiu a associação, no Twitter.
Há um mês, Naël realizou o sonho de muitos jovens: apareceu como figurante num videoclipe filmado em Nanterre por Jul, astro do rap francês.
Assim como desportistas e outros rappers, Jul compartilhou nas redes sociais o apelo para ajudar financeiramente a família de Naël, em memória do "pequeno irmão".
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