"A decisão de Sall foi provavelmente motivada pelo reconhecimento de que era improvável que vencesse as eleições caso decidisse concorrer", escrevem os analistas numa nota enviada aos clientes, e a que a Lusa teve acesso.
Para os analistas da Eurasia, a decisão "põe fim à especulação sobre um terceiro mandato e vai baixar significativamente as tensões políticas que têm marcado o período pré-eleitoral", principalmente desde que o principal opositor foi condenado por violação e, assim, ficou inelegível para desafiar Sall nas presidenciais de fevereiro de 2024.
"A incerteza sobre a elegibilidade do líder da oposição, Ousmane Sonko, permanece um potencial gatilho para a instabilidade a curto prazo, mas a intensidade dos protestos, caso seja impedido de concorrer, será menos disruptiva do que até agora era antecipado se Sall concorresse a um terceiro mandato", diz a Eurasia, sublinhando que "a principal causa para os protestos era o terceiro mandato do Presidente, e não os problemas legais de Sonko".
No anúncio da não recandidatura, o atual Presidente não nomeou um sucessor, mas para os analistas da Eurasia o primeiro-ministro, Amadou Ba, "é o mais bem colocado para ser o candidato da coligação que suporta o Governo, dado o seu cargo atual e a sua condição de ser um dos principais financiadores".
Sall anunciou na segunda-feira que não vai concorrer às próximas eleições presidenciais do Senegal, previstas para fevereiro de 2024, após meses de controvérsia, incerteza e tensão política no país, com protestos em larga escala, fortemente reprimidos pelas forças de segurança.
O Presidente, que governa o Senegal desde 2012 e se aproxima do fim de dois mandatos de sete e cinco anos, considera que a sua terceira candidatura não seria ilegal, apesar de a Constituição do país africano proibir mais de dois mandatos consecutivos.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, o presidente da Comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamat, e o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, saudaram a decisão do Presidente senegalês, Macky Sall, de não tentar um terceiro mandato.
"Gostaria de manifestar o meu profundo apreço pelo Presidente Macky Sall e pelo sentido de Estado que demonstrou. A sua decisão é um exemplo muito importante para o seu país e para o resto do mundo", declarou Guterres na segunda-feira na sua conta na rede social Twitter, pouco depois de Sall ter anunciado a sua decisão num discurso à nação.
Também através do Twitter, Mahamat saudou a "sábia decisão" do chefe de Estado senegalês, a quem chamou "irmão", de "não se candidatar às eleições presidenciais de 2024".
"Expresso a minha admiração pelo grande estadista que ele é por ter colocado os interesses superiores do Senegal em primeiro lugar e assim ter preservado o modelo democrático senegalês, que é o orgulho de África", acrescentou o chefe da Comissão (secretariado) da União Africana (UA).
Na mesma linha, Michel também disse "congratular-se" com o anúncio de Sall.
"Está a trabalhar para o Senegal e a defender uma África forte e respeitada. Obrigado pela excelente cooperação. A UA no G20 (grupo de países com as economias mais desenvolvidas e emergentes), uma transição climática justa e a reforma do financiamento do desenvolvimento: são muitos os desafios que estamos a enfrentar juntos", acrescentou Charles Michel.
Também o Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, enquanto presidente da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), saudou a "decisão corajosa" do seu homólogo senegalês, de não se recandidatar a um terceiro mandato, considerando-o um "grande estadista".
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