O governo sírio decidiu cancelar no sábado a creditação aos jornalistas da BBC, depois de uma reportagem que considerou ser "parcial e mentirosa".
O trabalho, que o executivo liderado pelo ditador Bashar al-Assad contesta, verificou que existem ligações entre a família do presidente sírio e o comércio de Captagon, uma anfetamina poderosa.
A emissora britânica garante que fez jornalismo independente e imparcial e, num comunicado citado numa notícia da própria BBC, disse que "fala com pessoas pelo espetro político para estabelecer factos".
A reportagem foi publicada em junho e foi realizada pelos jornalistas no BBC News Arabic Investigations, a divisão no Médio Oriente da televisão pública do Reino Unido. Foi confirmado que familiares de Assad e vários membros das Forças Armadas Sírias estão envolvidas no comércio ilegal de Captagon, apesar do governo negar qualquer envolvimento no tráfico.
Tanto os Estados Unidos, como a União Europeia e o Reino Unido, já tinham acusado o governo sírio de produzir e exportar a droga altamente viciante, com a família do autoritário presidente à frente da situação.
O ministério da informação disse que a BBC não cumpriu com os "parâmetros profissionais" do país e acusou-a de dar "informação falsa e subjetiva" desde o início da guerra civil, que começou em 2011. O executivo acrescentou que avisou a BBC "mais do que uma vez", mas esta "continuou a transmitir os seus relatórios falsos com base em declarações de entidades terroristas e hostis para com a Síria".
Apesar da Síria limitar largamente a liberdade de imprensa e de expressão, especialmente depois de Bashar al-Assad ficar no poder após o pico da guerra civil e da tentativa de Primavera Árabe no país, é raro que o governo retire credenciais a jornalistas estrangeiros
Segundo o Repórteres Sem Fronteiras, a Síria é um dos piores países no que diz respeito à liberdade de imprensa, encontrando-se no lugar 175 de 180 países do índex (à frente do Turquemenistão, Irão, Vietname, China e, em último lugar, da Coreia do Norte).
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