Frustração de Zelensky foi insuficiente para convite para adesão à NATO
A NATO deixou cair a possibilidade de um calendário para adesão da Ucrânia, quase frustrando as aspirações do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, mas deixando a promessa de um convite, mais tarde e só quando o país cumprir certas condições.
© Roman Pilipey/Getty Images
Mundo NATO
Ao sentimento de uma cimeira de Vilnius (Lituânia) "que já era histórica", para o secretário-geral da Aliança Atlântica Jens Stoltenberg, e que "era difícil poder começar melhor" na opinião do primeiro-ministro português António Costa, seguiram-se ao início desta tarde palavras duras de Zelensky: "A incerteza é fraqueza", publicou no Twitter a caminho da capital lituana.
Durante a manhã, Stoltenberg havia apresentado o guião preanunciado do primeiro dia da cimeira: os 31 Estados-membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) queriam enviar uma "mensagem clara e positiva" sobre a adesão da Ucrânia, mas a palavra "convite" era para evitar.
Desde 24 de fevereiro de 2022, quando o Presidente russo Vladimir Putin ordenou a invasão da Ucrânia, que a mensagem é a de um "apoio inequívoco" e assim continuará a ser depois desta cimeira, com a reafirmação de que, um dia, Kiev poderia integrar a NATO.
Mas já os trabalhos do primeiro dia estavam a decorrer - com a "boa notícia", como referiu António Costa, do desbloqueio do impasse da Turquia à adesão da Suécia à NATO - quando Zelensky largou uma "bomba" no Twitter.
Com palavras duras endereçadas a todos os primeiros-ministros e Presidentes da NATO, o "rosto" da Ucrânia disse que o país tem de ser respeitado e criticou a ambiguidade por causa da palavra "convite" e da imposição do cumprimento de condições.
"É absurdo e sem precedentes que não haja um calendário quer para um convite, quer para adesão da Ucrânia", apontou o chefe de Estado ucraniano, enquanto, à porta fechada, os aliados discutiam os moldes da relação futura com o país.
A pressão resultou, ainda que pouco, e a palavra "convite" para a Ucrânia apareceu pela primeira vez nas conclusões de uma cimeira da NATO, mas, na prática, ficou pelo caminho o dito convite ou o calendário que queria: "Estaremos em posição de estender um convite à Ucrânia para aderir à Aliança quando os Aliados estiverem de acordo e as condições estiverem reunidas".
As conclusões da Cimeira reafirmam o compromisso assumido em 2008, durante a cimeira de Bucareste (Roménia), reconhecendo "que o caminho da Ucrânia para a plena integração euro-atlântica ultrapassou a necessidade do Plano de Ação para a Adesão", já que o país está "cada vez mais interoperável e politicamente integrado" na Aliança Atlântica e "tem feito progressos substanciais no seu percurso de reforma".
E o secretário-geral da NATO fez questão de "limpar" inquietações que persistissem: "nunca houve um calendário, [a adesão] não é uma questão de calendário, é uma questão baseada em condições."
A Ucrânia pode contar com o apoio de toda a NATO enquanto os militares da Rússia permanecerem no seu território, mas ainda está longe, aparentemente, de poder intitular-se Estado-membro da organização da qual Portugal faz parte desde a génese, em 1949.
Os 31 ainda decidirão sobre os progressos democráticos que a Ucrânia fez e tem de continuar a fazer para, só aí, endereçarem o aguardado convite.
Para já, e para lidar com a invasão russa, Zelensky levará da capital lituana mais compromissos de ajuda, incluindo mísseis de longo alcance franceses 'Scalp' hoje disponibilizados pelo Presidente francês, Emmanuel Macron.
No que toca a Portugal, António Costa celebrou o apoio dos aliados para incluir nas conclusões as preocupações portuguesas com o flanco sul da Aliança Atlântica, nomeadamente África -- uma "bandeira" que o país está a acenar há anos.
O primeiro-ministro congratulou-se com o levantamento dos "obstáculos" de Ancara para a entrada da Suécia, mas o parlamento da Turquia e o da Hungria ainda têm de ratificar o acordo.
Costa apontou ainda a "unidade de todos" no apoio à Ucrânia, mas os ucranianos reivindicam a 'pertença a essa unidade'.
As bandeiras da Ucrânia espalhadas por Vilnius, edifício sim, edifício não, e as mensagens a exortar a NATO a ir mais longe demonstram que no país báltico há um consenso: a Ucrânia deveria pertencer à NATO. Mas tal ainda não é consensual entre os aliados.
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