A segunda cimeira Rússia-África e fórum económico, de 26 a 29 de julho em São Petersburgo, é uma oportunidade para Moscovo "mostrar que não ficou isolada e tem parceiros alternativos", na análise de dois investigadores do Instituto de Estudos de Segurança (ISS, na sigla em inglês).
Já o que os países africanos querem da cimeira "é mais complexo", pensam Priyal Singh e Denys Reva, porque se a agenda de desenvolvimento do continente seria normalmente a prioridade "isso já não é tão evidente como antes".
Num sistema internacional em mutação "com quem colaboram os Estados africanos e como o fazem" é uma preocupação crescente para os líderes continentais, sustentam os analistas, lembrando que eles são o maior agrupamento regional na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU).
A cimeira deverá reunir mais de 40 chefes de Estado e altos dirigentes africanos e pretende aprofundar a cooperação entre Moscovo e as capitais africanas em cinco grandes áreas: política, segurança, relações económicas, ciência e tecnologia e envolvimento cultural e humanitário.
Priyal Singh e Denys Reva questionam, no entanto, se não será apenas "um evento de pompa geopolítica destinada a cortejar líderes africanos" caso os Estados de África não consigam "trabalhar em conjunto para moldar os resultados a favor do continente".
Segundo Moscovo, o Fórum Económico de 2019, em Sochi, reuniu mais de 6.000 participantes e levou à assinatura de 92 acordos e memorandos no valor de mais de 12,5 mil milhões de dólares, mas "poucos progressos foram alcançados no comércio bilateral e investimento" nos últimos quatro anos, também devido à Covid-19 e à guerra na Ucrânia, referem os analistas.
A dimensão do evento "será a principal preocupação para a Rússia", insistem, já os países africanos deveriam definir "proativamente a agenda e identificar as responsabilidades nas reuniões África+1" para recentrar as necessidades de desenvolvimento de África, o que não tem acontecido, afirmam.
"Os governos africanos ainda desempenham um papel largamente secundário na definição destes compromissos, da agenda e na contribuição para os resultados", referem, dando o exemplo da segurança alimentar, posta em causa por a Rússia se retirar do acordo de cereais do Mar Negro, alegando a sua insatisfação com os acordos para a exportação de cereais e fertilizantes russos.
"Independentemente de a Rússia voltar a comprometer-se com o acordo antes da cimeira, os líderes africanos devem expressar ativamente as suas preocupações sobre a segurança alimentar no contexto da guerra em curso" e devem também reagir face às disposições da cimeira Rússia-África de 2019 violadas por Moscovo.
"Os Estados africanos não podem ignorar essas incoerências flagrantes que sustentam a sua vasta parceria estratégica com a Rússia", porque "poderiam ser vistos como agentes passivos, limitando-se a carimbar a prossecução por Moscovo dos interesses globais russos", alertam.
Um desenvolvimento positivo é o compromisso de prosseguirem na tentativa de uma solução para a guerra na Ucrânia, tendo o Presidente senegalês, Macky Sall, dito recentemente que os líderes africanos vão usar a cimeira para ver como seria possível avançar.
A cimeira acontece quase um mês depois da primeira missão de paz africana à Rússia e à Ucrânia.
Leia Também: Cereais vão estar no topo da agenda da cimeira Rússia-África