Eis as ideias radicais do AfD que sobressaltam a Alemanha e a UE

Contra a imigração, a União Europeia, negacionista das alterações climáticas e condescendente face a Vladimir Putin, o partido de extrema-direita alemão Alternativa para a Alemanha (AfD), em crescendo nas sondagens, está a evocar 'fantasmas' do nazismo alemão.

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Lusa
03/08/2023 08:19 ‧ 03/08/2023 por Lusa

Mundo

Alemanha

No Bundestag (parlamento) desde 2017, o AfD está também representado em 15 dos 16 parlamentos dos Estados federais da Alemanha, e em julho elegeu pela primeira vez um presidente de câmara a tempo inteiro. Nas mais recentes sondagens surge com uma intenção de voto a nível nacional próxima dos 20%, 'taco a taco' com os socialistas do SPD, do chanceler Olaf Scholz, e apenas atrás da CDU.

Estes são alguns dos pontos essenciais sobre o que defende partido Alternativa para a Alemanha.

Radicalização desde a fundação e frequentes mudanças de líder

O AfD foi oficialmente fundado a 06 de fevereiro de 2013, por um professor de economia, Bernd Lucke, pelo jornalista Conrad Adam, e por um antigo membro da CDU, Alexander Gauland, e a imagem de marca inicial do partido era a sua oposição às políticas da zona euro, e designadamente ao programa de ajuda externa à Grécia, mas, sob diferentes lideranças, rapidamente evoluiu para posições mais extremistas noutras matérias.

À data da sua criação, o AfD compreendia três movimentos diferentes -- os economistas liberais, os conservadores e os populistas mais 'encostados' à extrema-direita -, mas desde há muito que os dois primeiros movimentos dissociaram-se do partido, que, entre várias disputas internas e frequentes mudanças de liderança, acentuou o seu cariz nacionalista e extremista. Atualmente, é coliderado por Tino Chrupalla e Alice Weidel, também os seus líderes parlamentares no Bundestag.

O AfD tem atualmente um total de 28.500 militantes em todo o país, cerca de 80% dos quais homens.

Políticas anti-imigração, anti-UE, negacionista das alterações climáticas e pró-Putin

A ideologia do AfD é difícil de definir, face às discordâncias entre as diversas fações internas no partido, designadamente em matéria de política externa, o que já levou à interrupção de um congresso federal no ano passado devido às evidentes divergências de fundo, e a que, no congresso que decorre esta semana, tenha sido adiado para depois da escolha dos candidatos às eleições europeias de 2024 o debate sobre o próprio programa político do partido.

Ainda assim, o AfD caracteriza-se por uma série de posições cada vez mais consensuais dentro do partido: além de ser anti-imigração, é contra o Euro, defende uma reforma profunda ou mesmo dissolução da União Europeia -- uma das questões em aberto no seu programa para as Europeias de 2024 -, é assumidamente islamofóbico, nega as alterações climáticas enquanto resultado da ação humana, e opõe-se à ajuda militar à Ucrânia e às sanções à Rússia.

O AfD apresenta-se ainda como defensor da classe economicamente mais empobrecida, designadamente no território da antiga República Democrata Alemã, no Leste, onde a sua popularidade é praticamente o dobro daquela de que goza na parte ocidental do país.

Tendo no horizonte três importantes eleições regionais no próximo ano -- todas em estados do Leste do país, o seu 'bastião' -, o AfD prepara também já o 'assalto' ao Parlamento Europeu, tendo elegido no último fim-de-semana o seu 'cabeça de lista' para as eleições europeias de junho de 2024.

Suspeitas de extremismo e vigilância dos serviços secretos

Em março de 2021, o BfV, o serviço de informações internas, classificou o AfD como um "caso suspeito de extremismo de direita", com ligações a grupos nacionalistas radicais, e, já este ano, 'catalogou' como "extremistas confirmados" tanto a filial do partido no estado da Turíngia como a ala da juventude do AfD, sendo que neste segundo caso a decisão está suspensa devido a um recurso interposto na justiça.

A classificação de membros do partido como extremistas permite colocá-los sob vigilância do Estado, sendo esta a primeira vez desde a era nazi que as autoridades alemãs adotam uma medida deste tipo contra um partido político.

Para as autoridades é particularmente preocupante a ação dos membros da denominada ala 'Der Flugel', uma corrente interna do AfD liderada pelo dirigente político do partido no estado da Turíngia, Bjorn Hocke, e cuja linha é 'abraçada' por entre 30 a 40% dos membros do AfD, de acordo com os serviços de informações.

Hocke, considerado um dos políticos mais radicais do AfD, foi recentemente processado por, durante um congresso, utilizar a frase "Tudo pela Alemanha" ("Alles für Deutschland"), o lema de forças especiais nazis. O mesmo dirigente também tem defendido pontos de vista revisionistas sobre o passado nazi da Alemanha, e em 2018 classificou mesmo o memorial do Holocausto em Berlim como um "monumento da vergonha".

Recentemente, o Instituto Alemão dos Direitos Humanos, uma organização financiada pelo Estado, divulgou um estudo em que argumenta que a linguagem e as táticas utilizadas pelo AfD "para atingir os seus objetivos racistas e de extrema-direita" parecem reunir as condições para proibir o partido, como um "perigo para a ordem democrática livre", uma questão que é todavia muito sensível, já que poderia reforçar a retórica do partido, e dos seus apoiantes, de que atualmente a Alemanha não é democrática.

A ministra do Interior, Nancy Faeser, considera que a extrema-direita representa "um perigo máximo para a ordem democrática, porque tem como objetivo derrubar a democracia".

Subida nas sondagens após resultado eleitoral aquém do esperado em 2021

Nas últimas eleições gerais alemãs, em 2021, o AfD obteve um resultado aquém do esperado, 10,35%, e muitos anteciparam o início do fim do partido, que, no entanto, obteve sucessos eleitoral inéditos já este ano em eleições locais e está em alta nas sondagens, antes de eleições estatais e europeias em 2024 e as eleições gerais um ano mais tarde.

Desde a sua criação em 2013, o AfD participou em duas eleições gerais nacionais: nas primeiras, em 2017, foi a terceira força política mais votada, obtendo 12,6% dos votos, o suficiente para forçar a CDU de Angela Merkel -- à qual "roubou" mais de 1 milhão de eleitores - a entrar numa grande coligação. Em 2021, numas eleições ganhas pelo SPD, recuou então para os 10,35% (quinto partido mais votado), ainda assim o suficiente para impedir a continuação no poder da CDU, já na era 'pós-Merkel' e liderada por Armin Laschet.

Antes, nas eleições europeias de 2014, o partido de extrema-direita alemão conquistou sete assentos no Parlamento Europeu.

Já este ano, em junho, o partido elegeu pela primeira vez um chefe da administração local, na segunda volta das eleições na comarca de Sonneberg, na Turíngia, no leste do país, com a vitória do candidato Robert Sesselmann. A Turíngia, um dos primeiros bastiões do Partido Nacional Socialista de Adolf Hitler, é um dos três estados que irá a eleições em 2024, e atualmente o AfD lidera as sondagens, com mais de 30% das intenções de voto.

A 03 de julho, a cidade de Raguhn-Jessnitz, no estado de Saxónia-Anhalt, na Alemanha, elegeu o primeiro presidente de câmara a tempo inteiro da AfD, Hannes Loth, que obteve 51% dos votos face a um candidato independente, fazendo soar em definitivo os alarmes entre as forças políticas do 'mainstream', e embalando aparentemente para as eleições regionais do próximo ano na Turíngia, Brandeburgo e Saxónia.

Leia Também: AfD mostra força da extrema-direita a menos de um ano das Europeias

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