Níger. Junta Militar avisa que ripostará a qualquer agressão da CEDEAO

A Junta Militar que tomou o poder no Níger a 26 de julho avisou quinta-feira que ripostará imediatamente a qualquer agressão da CEDEAO, denunciou os acordos militares assinados com França e afastou quatro embaixadores noutros tantos países.

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Lusa
04/08/2023 06:39 ‧ 04/08/2023 por Lusa

Mundo

Amadou Abduramane

Num comunicado transmitido pela televisão nacional na noite de quinta-feira, lido pelo coronel Amadou Abduramane, os golpistas, organizados no Conselho Nacional para a Salvaguarda da Pátria (CNSP), apelam à população para que esteja "vigilante" contra "espiões e forças armadas estrangeiras" e para que alerte as autoridades para quaisquer movimentos suspeitos.

Por outro lado, os golpistas denunciaram os vários acordos militares assinados com a França, nomeadamente no que diz respeito ao "estacionamento" do destacamento francês e ao "estatuto" dos soldados presentes no âmbito da luta contra o 'jihadismo'.

"Perante a atitude e a reação leviana da França face à situação" no Níger, "o CNSP decidiu denunciar os acordos de cooperação no domínio da segurança e da defesa com aquele país", declararam os golpistas.

A Junta Militar anunciou também a "cessação" das "funções" dos embaixadores do Níger em França, nos Estados Unidos, na Nigéria e no Togo.

O comunicado surge poucas horas depois da chegada a Niamey de uma  delegação da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), numa tentativa de encontrar uma saída para a crise, oito dias após o golpe de Estado liderado pelo general Abdourahamane Tiani que derrubou o regime do presidente democraticamente eleito Mohamed Bazoum.

Os vizinhos da África Ocidental ameaçaram usar a "força" se o Presidente Bazoum não for reintegrado até ao próximo domingo.

A delegação da CEDEAO, chefiada pelo antigo chefe de Estado nigeriano Abdulsalami Abubakar, deverá "encontrar-se com os líderes do golpe de Estado no Níger para apresentar as exigências dos líderes da CEDEAO", de acordo com um comunicado da presidência nigeriana.

O Presidente da Nigéria, Bola Tinubu, atual Presidente da CEDEAO, pediu-lhe que "fizesse tudo o que fosse possível" para uma "resolução amigável" da crise no Níger, na sequência das sanções impostas ao país e de um ultimato dado aos golpistas para restabelecerem a ordem constitucional, sob pena de recorrerem à "força".

A organização oeste-africana, que suspendeu as transações financeiras com o Níger, declarou que estava a preparar uma operação militar, embora tenha sublinhado que esta era "a última opção em cima da mesa".

Paralelamente, os chefes de Estado-Maior da CEDEAO vão reunir-se ao longo do dia de hoje em Abuja, Nigéria, enquanto vários exércitos da África Ocidental, incluindo o do Senegal, dizem estar prontos a intervir se o ultimato não for respeitado no domingo.

Numa entrevista à agência noticiosa France-Presse (AFP), o embaixador do Níger em Washington, Kiari Liman-Tinguiri, um dos entretanto afastados do cargo, pediu à Junta Militar para "ganhar juízo".

"Se o Níger entrar em colapso, todo o Sahel entrará em colapso e será desestabilizado [...] e teremos [o grupo de mercenários] Wagner e os 'jihadistas' a controlar a África desde a costa até ao Mediterrâneo", advertiu Liman-Tinguri.

Por outro lado, o Mali e o Burkina Faso declararam que qualquer intervenção armada no Níger será considerada "como uma declaração de guerra" contra os dois países.

Se as relações entre Niamey e o bloco da África Ocidental são tensas, também o são com a França, a antiga potência colonial.

Na quinta-feira, os programas da RFI (Radio France Internationale) e do canal de notícias televisivo France 24 foram interrompidos no Níger, "uma decisão tomada fora de qualquer quadro convencional e legal", segundo a empresa-mãe dos dois meios de comunicação, France Médias Monde.

A suspensão das emissões ocorreu no dia do 63.º aniversário da independência do Níger

Desde o golpe de Estado, as relações com Paris deterioraram-se. Os incidentes ocorridos no domingo, durante uma manifestação diante da embaixada francesa, levaram à evacuação de mais de 500 cidadãos franceses.

Milhares de manifestantes que apoiam a junta no poder saíram às ruas de várias cidades nigerianas na quinta-feira, numa manifestação pacífica convocada pelo M62, uma coligação de organizações "soberanistas" da sociedade civil.

Muitos deles entoaram slogans críticos em relação à França e agitaram bandeiras da Rússia - país do qual o Mali e o Burkina Faso já se aproximaram.

O acesso à embaixada francesa e a outras chancelarias próximas foi bloqueado na quinta-feira pelas forças de segurança nigerianas, observaram os jornalistas da AFP. 

Antes da manifestação, Paris tinha reiterado "que a segurança das instalações diplomáticas e do pessoal (eram) obrigações ao abrigo do direito internacional".

O Níger é um dos países mais pobres do mundo, apesar dos seus recursos de urânio. 

Assolado por ataques de grupos ligados ao Estado Islâmico e à Al-Qaida, é o terceiro país da região a sofrer um golpe de Estado desde 2020, depois do Mali e do Burkina Faso.

Leia Também: Níger: Senegal, Costa do Marfim e Nigéria dispostos a agir militarmente

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