"[Washington] está a suspender certos programas de assistência internacional ao Governo do Níger. Mas a entrega de ajuda humanitária e alimentar vital continuará", afirmou o Secretário de Estado norte-americano, que, na quarta-feira à noite, já tinha ordenado a saída do seu pessoal não essencial da embaixada em Niamey.
Sexta-feira, na sua declaração, Blinken, que falou em várias ocasiões com o presidente deposto Mohamed Bazoum, acrescentou que o seu país está a "continuar as atividades do governo dos Estados Unidos no Níger sempre que possível, incluindo operações diplomáticas e de segurança, para a segurança dos funcionários".
"[A ajuda ao Governo] depende da governação democrática e do respeito pela ordem constitucional", escreveu Blinken, dizendo que Washington "continuará a rever a assistência e cooperação internacional à medida que a situação no terreno evoluir".
Entretanto, em Abuja, o comissário para os Assuntos Políticos e de Segurança da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), Abdel-Fatau Musah, anunciou, sexta-feira também, terem ficado definidos os contornos de uma "possível intervenção militar" contra a junta no Níger foram "definidos",
O anúncio, sem mais pormenores, foi feito no final da reunião de três dias, em Abuja, dos chefes de Estado-Maior da organização.
"Todos os elementos de uma possível intervenção foram trabalhados nesta reunião, incluindo os recursos necessários, mas também como e quando vamos projetar a força", disse Musah.
"Os chefes de Estado-Maior e as suas equipas têm trabalhado 24 horas por dia [desde quarta-feira] para desenvolver um conceito de operações para uma possível intervenção militar na República do Níger, a fim de restaurar a ordem constitucional e garantir a libertação do Presidente detido", acrescentou.
No entanto, "a CEDEAO não vai dizer aos golpistas quando e onde vai atacar", disse, adiantando que se trata de uma "decisão operacional que será tomada pelos chefes de Estado" da organização.
A França, Alemanha e os Países Baixos anunciaram também sexta-feira a suspensão da ajuda ao desenvolvimento e da cooperação direta com o Níger, na sequência do golpe militar de 26 de julho contra o Presidente eleito Mohamed Bazoum.
Em Paris, a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros francês, Anne-Claire Legendre, entrevistada sexta-feira pela BFM TV, afirmou que a junta militar nigerina instaurou uma "repressão autoritária" no país, situação que considerou "inaceitável".
´ "Instalou-se a repressão autoritária nos últimos dias, com a detenção de membros do Governo nomeado pelo Presidente Mohamed Bazoum e da sociedade civil, a proibição de partidos políticos e de manifestações e a suspensão de meios de comunicação social livres e independentes", incluindo a France 24 e a RFI, afirmou Legendre.
Os jornalistas são "ameaçados todos os dias no exercício da sua atividade", continuou a porta-voz que, questionada sobre uma eventual intervenção militar da França, respondeu que essa "não é a principal questão".
"Hoje, estamos a apoiar os esforços da CEDEAO para tentar levar os golpistas a ouvir a mensagem da comunidade internacional", que apela ao regresso à ordem constitucional, disse. "Esta é a nossa prioridade", insistiu.
"É óbvio que a região precisa de cooperação na luta contra o terrorismo", sublinhou, lembrando que o grupo russo Wagner, ao qual os golpistas malianos recorreram, tem como "receita" "o caos, a pilhagem de recursos e o recrudescimento da violência". "É isso que estamos a ver no Mali e é isso que não queremos para o Níger", comentou.
A 30 de julho, a CEDEAO, que impôs pesadas sanções a Niamey, deu aos golpistas sete dias para restabelecerem a Presidência de Mohamed Bazoum, sob pena do recurso à "força".
Os golpistas autointitulam-se Conselho Nacional de Salvaguarda da Pátria (CNSP), que é liderado pelo general Abdourahamane Tiani.
A um dias do fim do ultimato, a CEDEAO continua a afirmar que privilegia a via diplomática para resolver a crise no Níger, nomeadamente através do envio de uma delegação a Niamey.
A opção militar é, na sua opinião, a última a ser posta em cima da mesa.
"Queremos que a diplomacia funcione e queremos que esta mensagem seja claramente transmitida [aos golpistas], nomeadamente que lhes damos todas as oportunidades para inverterem o que fizeram", acrescentou o responsável da CEDEAO.
Os golpistas garantiram já uma "resposta imediata" a "qualquer agressão" por parte de um país da CEDEAO.
O Mali e o Burkina Faso, vizinhos do Níger governados também por militares após os golpes de Estado de 2020 e 2022, respetivamente, apoiam a junta, bem como a Guiné-Conacri.
Os dois países, que foram suspensos dos órgãos de governo do bloco da África Ocidental, declararam que qualquer intervenção armada seria considerada "uma declaração de guerra" e teria como consequência a sua retirada da CEDEAO.
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