Sudão. Combates violentos em Cartum obrigam civis a fugir
Ataques aéreos e fogo de artilharia abalaram hoje Cartum, onde o exército e os paramilitares que lutam pelo poder ordenaram a evacuação de um bairro, segundo os residentes.
© Getty Images
Mundo Sudão
Residentes em Wad Madani, que dista 200 quilómetros a sul, citados pela agência France-Presse, afirmaram que bairros densamente povoados foram palco de trocas de tiros com artilharia pesada.
Em Omdourman, um subúrbio próximo de Cartum, "os obuses estão a cair sobre as casas", disse um morador.
Nas proximidades, o exército e os paramilitares ordenaram a retirada dos civis do bairro de Abu Rouf, declarado "zona operacional", segundo o "comité de resistência" local, um dos grupos de militantes que organiza a entreajuda entre os habitantes que ficaram para trás.
Neste bairro, o exército efetuou ataques aéreos e disparou artilharia contra a ponte de Shambat para cortar o acesso aos paramilitares das Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês) que a utilizam para reabastecer em Bahri, do outro lado do Nilo, relatou um residente, acrescentando que os civis estavam a fugir.
"A maioria dos habitantes de Abu Rouf fugiu por causa dos disparos de morteiros", disse outra testemunha.
O conflito entre o exército, liderado pelo general Abdel Fattah al-Burhan e os paramilitares das RSF, comandados pelo general Mohamed Hamdane Daglo, que eclodiu em 15 de abril, causou mais de 3.900 mortos, segundo a organização não-governamental ACLED, e cerca de quatro milhões de deslocados e refugiados.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, 80% dos hospitais do país estão fora de serviço e os que ainda estão operacionais são frequentemente alvo de ataques ou pilhagens.
Além disso, desde 15 de abril, Souleima Ishaq al-Khalifa, médica que dirige o organismo governamental de luta contra a violência contra as mulheres, disse que com os seus colegas registaram 108 agressões sexuais em Cartum e em Darfur, a vasta região do oeste do Sudão que, juntamente com a capital sudanesa, é o foco da maioria dos combates.
"Receber os cuidados de saúde necessários" depois de uma violação é um "desafio imenso", afirmou.
"Em Cartum já não há medicamentos" e "em Nyala (Darfur do Sul) não é possível chegar ao hospital porque há uma base das RSF no caminho", acrescentou.
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