Gabão. Presidente são-tomense condena inversão da ordem constitucional
O presidente são-tomense condenou hoje a "inversão da ordem constitucional" por via das armas no Gabão, assegurando que a comunidade são-tomense neste país se encontra bem e foi aconselhada a ficar em casa.
© HANNAH MCKAY/POOL/AFP via Getty Images
Mundo São Tomé
"Tem sido recorrente, infelizmente, mas toda e qualquer forma de inversão da ordem constitucional não pode merecer a nossa concordância. Portanto, é um ato que condenamos porque ela vem na sequência da interrupção de funcionamento de um Estado de direito normal", reagiu Carlos Vila Nova, quando questionado sobre a situação no Gabão.
Carlos Vila Nova que falava, após presidir ao ato de celebração dos 48 anos da Polícia Nacional são-tomense, considerou que "neste tipo de situações há sempre que respeitar as decisões do povo" que "é soberano", porque "em democracia faz-se eleições e os resultados das eleições devem ser aceites" ou contestados através de instituições competentes.
Para Vila Nova, "a usurpação do poder pela via das armas ou pela força" é algo que merece a condenação de São Tomé e Príncipe "e de todos os países que de facto vivem no Estado de direito democrático".
O presidente são-tomense disse que tem estado em contacto com algumas autoridades do Gabão e que o informaram que "a situação parece calma".
"Sei que o presidente [do Gabão] Ali Bongo está em residência fixa, portanto, está bem, está de saúde, sob vigilância médica (...) e as ruas estão a ser devidamente patrulhadas", referiu Carlos Vila Nova.
O chefe de Estado avançou que "a comunidade são-tomense está bem" e foi aconselhada "a não sair de casa", mas é preciso estar atento ao evoluir da situação nas próximas horas.
Questionado sobre o golpe de Estado também registado recentemente no Níger, Carlos Vila Nova lamentou que "a situação não se limitou à África Central", referindo que "é um problema que atinge um pouco todos os continentes", citando o caso de Myanmar.
"A verdade é que há que se encontrar uma forma no quadro multilateral de se evitar isso. Eu defendo a paz, defenderei sempre a paz, por isso mesmo uma eventual intervenção militar no Níger eu condená-la-ei, portanto prefiro que por via de diálogo se encontre uma solução", salientou o presidente são-tomense.
O Gabão enfrenta desde a madrugada de hoje um golpe de Estado levado a cabo por militares, iniciado pouco depois de terem sido anunciados os resultados das eleições de sábado, segundo os quais o presidente, Ali Bongo Ondimba, permaneceria no poder, dando continuidade a 55 anos de domínio do poder pela sua família.
Um grupo de militares do Gabão anunciou na televisão o cancelamento das eleições presidenciais que reelegeram Ali Bongo e a dissolução de todas as instituições democráticas.
Depois de constatar "uma governação irresponsável e imprevisível que resulta numa deterioração contínua da coesão social que corre o risco de levar o país ao caos (...) decidiu-se defender a paz, pondo fim ao regime em vigor", declarou um dos militares.
O mesmo militar, alegando falar em nome de um Comité de Transição e Restauração Institucional, disse que todas as fronteiras do Gabão estavam "encerradas até nova ordem".
De acordo com a agência France-Presse, durante a transmissão televisiva ouviram-se tiros de metralhadoras automáticas em Libreville.
Horas antes, a meio da noite, às 03:30 (mesma hora em Lisboa), o Centro Eleitoral do Gabão (CGE, na sigla em francês) tinha divulgado na televisão estatal, sem qualquer anúncio prévio, os resultados oficiais das eleições presidenciais.
A comissão eleitoral anunciou que o presidente Ali Bongo Ondimba, no poder há 14 anos, tinha conquistado um terceiro mandato nas eleições de sábado com 64,27% dos votos expressos, derrotando o principal rival, Albert Ondo Ossa, com 30,77% dos votos.
O anúncio foi feito numa altura em que o Gabão estava sob recolher obrigatório e com o acesso à Internet suspenso em todo o país, medidas impostas pelo Governo no sábado, dia das eleições.
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