Alguns gestos e declarações do Papa "são dolorosos e difíceis para o povo ucraniano, que está atualmente a sangrar na luta pela sua dignidade e independência", afirmaram os bispos num comunicado citado pela agência espanhola EFE.
Francisco reuniu-se com os bispos que estão em Roma para participar no Sínodo da Igreja Greco-Católica Ucraniana, até 13 de setembro, e o encontro foi uma oportunidade para uma "conversa franca", segundo descreveram no comunicado.
Os bispos disseram que expressaram ao Papa o que os fiéis lhes confiaram para transmitir, incluindo mal-entendidos surgidos entre Kiev e o Vaticano desde que a Rússia invadiu o país, em 24 de fevereiro de 2022.
Tais mal-entendidos "são usados pela propaganda russa para justificar e apoiar a ideologia assassina do mundo russo", disse o chefe da Igreja Greco-Católica Ucraniana, o arcebispo Sviatoslav Shevchuk.
"Os fiéis da nossa Igreja são sensíveis a cada palavra de Vossa Santidade como voz universal da verdade e da justiça", afirmou.
O Papa foi criticado recentemente, incluindo pela diplomacia ucraniana, por ter elogiado a herança cultural da Rússia durante um encontro com jovens russos.
Francisco esclareceu na segunda-feira, durante a viagem de regresso de uma visita à Mongólia, que se limitou a repetir o que diz sempre aos jovens em todo o mundo de que devem preservar a herança cultural.
Francisco reconheceu que "talvez não tenha sido muito feliz" quando se referiu à Grande Rússia, nomeando Pedro o Grande e Catarina da Rússia, mas assegurou que só estava a pensar na dimensão cultural.
"Não era uma referência ao plano geográfico, mas antes cultural", afirmou então.
Os bispos ucranianos referiram que o Papa explicou o significado do que disse aos estudantes russos e reafirmou estar com o povo ucraniano.
Como gesto especial, o Papa argentino tinha consigo um ícone da Theotokos (Mãe de Deus), que lhe foi oferecido por Sviatoslav Shevchuk quando o chefe da igreja ucraniana foi bispo auxiliar em Buenos Aires.
"Rezo todos os dias pela Ucrânia diante dele", disse aos bispos ucranianos.
Os bispos agradeceram as iniciativas de Francisco para a libertação de prisioneiros de guerra e os esforços do seu enviado pessoal, o cardeal Matteo Zuppi, para tentar a paz entre a Rússia e a Ucrânia.
Apelaram à continuação dos esforços para a libertação dos prisioneiros de guerra, mencionando em particular os padres redentoristas Ivan Levytskyi e Bohdan Haleta, que ainda se encontram em cativeiro na Rússia.
O Vaticano disse, num comunicado separado, que no encontro de quase duas horas Francisco contou aos bispos que as crianças ucranianas com que se encontra nas audiências "olham e esquecem-se de sorrir".
"Este é um dos frutos da guerra: tirar o sorriso às crianças", acrescentou Francisco, citado pelo Vaticano.
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