Jens Stoltenberg participou na reunião de hoje do Comité de Negócios Estrangeiros do Parlamento Europeu (PE) e apesar de uma ou outra voz de apoio, a maioria dos eurodeputados criticou a maneira como a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) está a gerir a invasão que começou há mais de um ano e meio.
A eurodeputada irlandesa Clare Daly, do grupo político The Left (Esquerda Unitária Europeia e Esquerda Nórdica Verde), disse que as declarações de Jens Stoltenberg sobre o progresso da Ucrânia na contraofensiva estão erradas: "Isso não é verdade. A Ucrânia perdeu território, meio milhão de homens [militares] morreram, há homens a pagar para sair do país, outros escondidos em casa... Esta é agora uma guerra de atrito e é cruel continuá-la".
O eurodeputado polaco Witold Jan Waszczykowski, dos Conservadores e Reformistas Europeus, considerou que a cimeira da NATO em Vilnius "foi boa, mas não foi tão boa quanto a de Varsóvia" (2016), e que não houve decisões concretas, nomeadamente para aumentar o número de tropas da Aliança Atlântica no flanco leste e que "não há um comando regional da NATO" para defender o território que está mais próximo da Rússia.
Já o espanhol Antonio López-Istúriz White, do Partido Popular Europeu, pediu mais atenção para o flanco sul e para a atividade de organizações que estão a operar em África, aludindo à presença do grupo mercenário Wagner naquele continente e cuja estabilidade geopolítica está a deteriorar-se.
A crítica mais dura chegou pela intervenção do eurodeputado Mick Wallace, do The Left, que considerou que o secretário-geral da Aliança Atlântica "ridicularizou" o plano de paz apresentado por Pequim, em fevereiro: "Disse que a China não tem credibilidade".
Depois de a China apresentar este plano, Jens Stoltenberg disse que Pequim foi incapaz de condenar a invasão russa e, por isso, "não tem muita credibilidade".
Mick Wallace alargou condenou o "imperialismo ocidental" dos Estados Unidos que a NATO acompanha, nomeadamente a redefinição da estratégia para a China - que a União Europeia também quer reenquadrar.
"Como é possível subverter uma ordem mundial que não tem Constituição ou bases na lei internacional? Porque é que a NATO e os membros da NATO violaram repetidamente a lei internacional? Jugoslávia, Iraque, Afeganistão, Síria, Líbia, por exemplo... Há 40 anos que a China não invade ilegalmente ou bombardeia um país soberano. Os Estados Unidos dificilmente deixaram de o fazer nos últimos anos", criticou.
Para o eurodeputado, só a diplomacia pode resolver o conflito na Ucrânia e outras questões que estão a fazer oscilar a geopolítica internacional.
"Sabíamos que ia ser uma contraofensiva sangrenta e difícil", começou por responder o secretário-geral da NATO: "Há camadas de linhas defensivas [russas], com trincheiras, obstáculos, dentes de dragão [estrutura piramidal para impedir o avanço de carros de combate] e uma quantidade enorme de minas. Nunca vimos tantas minas num campo de batalha como as que vemos hoje na Ucrânia".
Jens Stoltenberg acrescentou que iniciar a contraofensiva foi uma decisão da Ucrânia.
"Decidiram fazê-lo porque querem libertar o seu território e estão a conseguir, gradualmente, reconquistá-lo, umas centenas de metros por dia", desenvolveu.
E respondeu que apoiar a Ucrânia é também apoiá-la nestas alturas.
Sobre o ceticismo em relação à eficácia da contraofensiva, Stoltenberg foi perentório: "Antigamente, a Rússia tinha o segundo exército mais forte do mundo, agora tem o segundo mais forte da Ucrânia".
Leia Também: Guerra fez da NATO "ainda mais importante", diz Stoltenberg