O 'speaker' republicano da Câmara dos Representantes anunciou a abertura de um inquérito com vista a destituir o presidente norte-americano, Joe Biden, no âmbito dos negócios do seu filho, questionando o envolvimento do líder do país nos processos fiscais de Hunter Biden.
A partir do Capitólio, Kevin McCarthy, o líder republicano que assumiu o cargo de 'speaker' que almejava há anos no início de 2023, afirmou que o inquérito é "o próximo passo lógico que irá dar poder aos congressistas para reunir todos os factos e respostas para o público norte-americano".
"Isto é exatamente o que queremos saber: as respostas. Acredito que o presidente gostaria de responder a estas questões e alegações", afirmou, citado pela ABC News.
O inquérito será liderado por três republicanos, incluindo Jim Jordan, um fervoroso apoiante de Donald Trump que negou que o ataque ao Capitólio, em 2021, fosse violento. "Não tomo esta decisão de ânimo leve. Independentemente do partido em que votaram, estes factos preocupam todos os norte-americanos", acrescentou McCarthy.
"These are allegations of abuse of power, obstruction and corruption, and they warrant further investigation by the House of Representatives," Speaker Kevin McCarthy says as he opens an impeachment investigation into President Biden https://t.co/PlEh0conPi pic.twitter.com/GwQOAVQVqz
— Bloomberg (@business) September 12, 2023
Apesar da abertura do inquérito e de o 'speaker' republicano querer levar o processo a votos, este poderá não ter os votos suficientes, não só devido à oposição do Partido Democrata, mas também aos opositores da extrema-direita dentro do próprio Partido Republicano. Ainda assim, Kevin McCarthy já tinha garantido há várias semanas que queria levar em frente o inquérito, para reunir todos os documentos e transações bancárias entre Joe Biden e o seu filho, Hunter Biden.
A abertura de um processo de exoneração contra um presidente dos Estados Unidos era uma ocasião raríssima na política norte-americana. No entanto, depois dos dois processos contra Donald Trump - o primeiro por alegado abuso de poder e o segundo por incitar à violência no Capitólio -, a ala ultranacionalista dos republicanos tem procurado usar essa arma legislativa para punir politicamente Biden por medidas que considera "antipatrióticas".
Na base deste inquérito está a investigação a Hunter Biden, o polémico filho do presidente que foi acusado em julho de dois crimes fiscais de pouca gravidade, por alegadamente ter pagado menos impostos do que era suposto em 2017 e 2018. Hunter tornou-se um dos principais alvos da direita contra o presidente, que questiona ainda negócios que o mesmo fez na Ucrânia e na China quando Barack Obama era presidente
O segundo filho do líder do país também está a ser investigado por posse ilegal de arma de fogo, em 2018, sendo que na altura ficou conhecido por hábitos de toxicodependência (que entretanto foram admitidos, e perdoados, pela família Biden).
A defesa de Hunter Biden ainda chegou a um acordo com os procuradores para que este declarasse a sua culpa, mas a juíza do caso, nomeada por Trump, afastou o acordo e pediu que a investigação continuasse.
Quando Kevin McCarthy sugeriu inicialmente o inquérito, a Casa Branca questionou a pertinência do mesmo, com o porta-voz, Ian Sams, a considerar que era um "exercício maluco enraizado, não em factos, mas em falta de vergonha partidária".
A ABC News e a Associated Press notam que a iniciativa promovida por McCarthy é também uma forma de o 'speaker' tentar unir o partido conservador à sua volta, já que a sua liderança é contestada praticamente desde o primeiro dia no cargo. Além disso, o Congresso tem de aprovar até ao dia 30 de setembro um novo orçamento público - sem o qual todas as entidades públicas nos Estados Unidos não podem trabalhar, segundo o invulgar procedimento fiscal nos Estados Unidos -, pelo que os republicanos podem usar o inquérito como arma de arremesso nas negociações para o orçamento.
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