A organização detalhou que "este recorde horrível" foi atingido no início deste mês, após a morte de dois jovens de 16 anos em dois incidentes separados, indicando que o número equivale a mais de uma criança palestiniana morta por semana.
Por outro lado, seis menores israelitas foram mortos até agora.
A ONG sublinhou que este é o segundo ano em que se regista um número recorde de crianças palestinianas mortas na Cisjordânia, o que reflete o agravamento da situação de segurança das crianças nos territórios palestinianos ocupados, num momento de recrudescimento da violência israelo-palestiniana.
Yousef, um rapaz entrevistado no ano passado pela Save the Children, está entre os mortos deste mês, segundo a organização, que recordou que o jovem rapaz comentou em 2022 que o seu sonho era "olhar para qualquer coisa no caminho para a escola, como pássaros e plantas".
"Quero ver as coisas que estou sempre a imaginar. Não quero cheirar a gás nem ver soldados por todo o lado. Não quero ter medo de sair à rua. Não quero que a minha mãe tenha medo que eu me magoe ou que ande pelas ruas à minha procura com medo que os soldados israelitas me tenham magoado", disse.
A Save the Children sublinhou que, para além destas mortes na Cisjordânia, seis crianças morreram na Faixa de Gaza, elevando o número total de vítimas mortais para 44, menos uma do que em todo o ano de 2022, quando duas crianças israelitas foram mortas.
O relatório especificou que cinco das crianças palestinianas mortas em 2023 tinham menos de 12 anos, enquanto três tinham menos de 08 anos, sendo a mais nova um menino de 02 anos. Em julho, quatro crianças foram mortas durante a operação militar israelita no campo de Jenin, a maior desde o fim da Segunda Intifada, há quase duas décadas.
Amina, uma jovem de 15 anos residente no campo durante a operação, disse que "de vez em quando" se senta num quarto e chora.
"Choro por causa de tudo o que nos aconteceu. Sonho todos os dias com o que aconteceu. Não durmo até ao amanhecer, até que seja claro para mim que eles não vão voltar para nos vir buscar", disse.
A mãe de Amina sublinhou que as suas filhas "já não são as mesmas".
"A minha filha de 7 anos recusa-se a sair de casa sozinha e, quando ouvem que os soldados estão a chegar ao campo, começam a chorar e querem ir embora", descreveu.
Por todas estas razões, o diretor da Save the Children para os territórios palestinianos ocupados, Jason Lee, denunciou uma "tendência alarmante".
"Estamos novamente perante o ano mais mortífero na Cisjordânia, a vários meses do final de 2023", alertou.
"Este ano foi marcado por um uso da força sem precedentes e por um número recorde de crianças mortas desde que há registos. A morte e a mutilação de crianças têm de acabar", sublinhou Lee, enquanto a ONG salientou a necessidade de pôr termo imediato ao uso excessivo da força pelas tropas israelitas contra as crianças palestinianas.
Por último, a organização pediu uma investigação independente e imediata do assassínio de crianças, bem como à sua responsabilização, e defendeu que, enquanto a "cultura da impunidade" se mantiver, os ciclos de violência continuarão, fazendo com que as crianças "continuem a pagar o preço com as suas vidas".
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