Inkatha insta Ramaphosa a cumprir reconciliação na África do Sul

O Partido da Liberdade Inkatha (IFP), na oposição, instou hoje o chefe de Estado Cyril Ramaphosa a cumprir a reconciliação da maioria negra defendida pelo príncipe Mangosuthu Buthelezi que morreu aos 95 anos.

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© GUILLEM SARTORIO/AFP via Getty Images

Lusa
18/09/2023 21:04 ‧ 18/09/2023 por Lusa

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África do Sul

Em declarações ao canal público sul-africano SABC, o deputado e vice-presidente do partido de maioria Zulu, Inkosi Mzamo Buthelezi, considerou que a reconciliação entre os dois partidos nacionalistas, IFP e o Congresso Nacional Africano (ANC), no poder desde 1994, é "importante" para a África do Sul, que cumpre três décadas de democracia no próximo ano.

"É um tema muito profundo e emocional, tratar de resolver e curar as feridas que ainda hoje existem", sublinhou o deputado sul-africano do KwaZulu-Natal, sudeste do país.

"Por isso, é muito importante que estas duas organizações realmente se reconciliem, mas o que se torna um problema para nós, como IFP, é o ANC ter esperado que o príncipe morresse antes de levar este assunto a sério", adiantou Inkosi Mzamo Buthelezi ao canal público sul-africano.

"É do conhecimento público que o IFP tem estado na vanguarda da tentativa de implorar ao ANC que nos deixe falar sobre esta questão", declarou.

A violência armada entre estas duas organizações políticas, principalmente no KwaZulu-Natal e em Gauteng, onde se situa Joanesburgo, causou milhares de mortos desde 1984 e até à realização negociada das primeiras eleições multirraciais e democráticas em 1994.

No passado sábado, em Ulundi, a capital do Reino Zulu na província do KwaZulu-Natal, o Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, que é também presidente do ANC, falou sobre a necessidade de reconciliação durante o seu elogio fúnebre do fundador do IFP, príncipe Mangosuthu Buthelezi, que morreu na semana passada aos 95 anos.

"O Príncipe Buthelezi demorou algum tempo para me expressar o seu desejo de ver o IFP e o Congresso Nacional Africano permanentemente reconciliados, trabalhando juntos na construção do nosso país. Por isso, ele ganhou a minha admiração", disse o presidente sul-africano.

Na sua intervenção, o líder do ANC sublinhou que, "por mais difícil que seja neste momento", é importante que sejam cumpridos "os desejos que ele tinha de uma reconciliação sustentável e duradoura, não apenas entre o IFP e o ANC", mas entre todos, "como povo da África do Sul".

"Como partidos políticos, temos de trabalhar pela unidade. Temos de pôr de lado as nossas diferenças, aqui no KwaZulu-Natal e em todo o país, em prol da construção da nossa nação", disse Cyril Ramaphosa.

Em 2018, antes do seu 90.º aniversário, Mangosutu Buthelezi afirmou ao canal público sul-africano que pelo menos 20.000 pessoas negras morreram na África do Sul em resultado da "guerra popular" do ANC de Nelson Mandela nas décadas de 1980 e 1990.

"Você deve ser justo e dizer quem foi o agressor, o ANC foi ao Vietname para estudar o que eles chamam de Guerra do Povo, mesmo agora eles falam sobre isso como sendo a Guerra do Povo, que a Guerra do Povo deveria ser contra a minoria branca que governava o país, mas voltou-se contra outros negros. Apenas cerca de 1/3 dos brancos morreram naquela época, mas 20.000 negros morreram naquela altura", salientou à SABC.

Em abril de 2021, o antigo primeiro-ministro dos amaZulu, o maior grupo étnico na África do Sul, com mais de 11 milhões de súbditos, afirmou, em entrevista à Lusa, nunca ter existido uma verdadeira reconciliação com o partido no poder na África do Sul, com o qual, disse na altura, gostaria de fazer a paz.

"Cheguei a falar com o senhor Ramaphosa, ainda agora também [durante a pandemia da covid-19], e disse-lhe que ele deve se lembrar que mais de 20.000 pessoas morreram, a covid-19 é tão grave quanto isso, não podemos esperar até que a covid-19 [pandemia] termine porque não sabemos quando terminará se é que acontecerá. Eu disse-lhe que para o meu bem-estar, para o meu sono tranquilo, preciso que saremos a ferida entre nós", salientou Mangosuthu Buthelezi à Lusa, em Ulundi, na sede do Partido da Liberdade Inkatha, que fundou em 1975.

Leia Também: Tribunal sul-africano impede Zuma de processar atual chefe de Estado

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