Dada a dificuldade de reformar a estrutura dos próprios órgãos da ONU, o Presidente ucraniano propôs que o direito de veto passe a ser contornado dando à Assembleia Geral poder para anular, por maioria qualificada, um veto por dos cinco membros permanentes (Rússia, Estados Unidos, China, França e Reino Unido).
Além disso, propôs que quando um destes países "recorrer à agressão contra outra nação, em violação da carta fundadora da ONU", seja suspenso do Conselho de Segurança por um determinado período de tempo.
Dirigindo-se de forma presencial ao Conselho de Segurança pela primeira vez, Zelensky defendeu que estas reformas poderiam fazer com que a ONU como um todo saísse do atual "beco sem saída em matéria de agressão", isto apesar de a Assembleia Geral ter reconhecido - por uma esmagadora maioria - que a Rússia é o agressor neste conflito.
Esta situação fez com que "a humanidade já não depositasse as suas esperanças na ONU quando se trata de defender as fronteiras soberanas das nações".
A guerra mostrou que existem "574 razões" para empreender esta reforma, o mesmo número de dias que dura a invasão russa.
Além destas propostas, Zelensky juntou-se ao apelo cada vez mais difundido para reformar a composição do Conselho de Segurança para melhor refletir a representação do mundo e citou especificamente a necessidade de a Alemanha, a Índia, o Japão, o mundo árabe e a América Latina terem um assento.
Ao contrário de terça-feira, quando discursou perante a Assembleia Geral, Zelensky optou hoje por falar na sua língua e teve de esperar mais de 20 minutos para que a presidência do Conselho resolvesse os protestos russos por razões processuais, como aconteceu nas outras ocasiões em que o Conselho convidou Zelensky a intervir por videoconferência.
Havia expectativa de ouvir os supostos detalhes que prometeu dar sobre a sua Fórmula de Paz, mas no final reiterou apenas que a retirada completa da Rússia do território ucraniano (incluindo também unidades militares e mercenários) e a "restauração total" da soberania ucraniana, também sobre o Mar Negro, poderá levar à "cessação das hostilidades".
Por último, o líder ucraniano disse estar disposto a realizar "dez conferências de conselheiros de acordo com os dez pontos da Fórmula da Paz" e posteriormente realizar uma cimeira de "todas as nações do mundo" para levar a cabo o seu plano.
O ministro dos Negócio Estrangeiro da Rússia, Serguei Lavrov, manteve-se ausente enquanto Zelensky falava, assento que foi ocupado por Vasily Nebenzya, o embaixador do país na ONU.
Uma aguardada possível interação entre Zelensky e Lavrov, acabou por não acontecer.
O Conselho de Segurança, encarregado de garantir a paz e a segurança internacionais, realizou mais de 50 reuniões sobre a Ucrânia -- quase sempre controversas, com muitas trocas acesas de palavras - mas nenhuma decisão concreta. Isto deve-se ao veto certo da Rússia a qualquer resolução do Conselho que critique aquilo a que chama a sua "operação militar especial".
De acordo com informações divulgadas pela ONU, inscreveram-se para discursar na reunião de hoje 62 líderes ou representantes estatais, além do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.
[Notícia atualizada às 20h29]
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