O presidente da Câmara dos Comuns do Canadá, Anthony Rota, apresentou um pedido de desculpas público, depois de homenagear um ucraniano que serviu numa unidade nazi durante a Segunda Guerra Mundial.
O momento em que questão ocorreu no passado dia 22 de setembro, sexta-feira, durante uma visita do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, ao Canadá. Yaroslav Hunka, de 98 anos, estava sentado na galeria do parlamento e acabou por ser aplaudido de pé, depois de Anthony Rota o descrever como um "herói".
"Um herói ucraniano, um herói canadiano, e agradecemos-lhe por todo o seu serviço", disse Rota apontando para Hunka.
No parlamento encontrava-se também Zelensky e o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau.
MASSIVE OUTRAGE after Canada’s parliament gave a standing ovation during Zelensky joint address Friday to Yaroslav Hunka, a 98-year-old Ukrainian Nazi collaborator who served in a Nazi military unit during the Second World War implicated in the mass murder of Jews and others.… pic.twitter.com/PFWQNEoM76
— Simon Ateba (@simonateba) September 24, 2023
Face ao sucedido, tal como destaca a imprensa internacional, o grupo judaico CIJA pronunciou-se e disse estar "profundamente perturbado" com a celebração de um veterano de uma unidade nazi, que participou no genocídio de judeus.
Entretanto, o presidente da Câmara dos Comuns do Canadá emitiu uma declaração. "Nas minhas observações após o discurso do presidente da Ucrânia, reconheci um indivíduo na galeria. Subsequentemente, tomei conhecimento de mais informações que me fizeram arrepender da minha decisão de fazê-lo", disse, segundo cita a BBC.
"Ninguém, incluindo os colegas parlamentares e a delegação da Ucrânia, estava ciente da minha intenção ou das minhas observações antes de as proferir. Esta iniciativa foi inteiramente minha, sendo o indivíduo em questão do meu [distrito] de equitação e tendo sido trazido à minha atenção", acrescentou.
"Quero particularmente estender as minhas mais profundas desculpas às comunidades judaicas no Canadá e em todo o mundo. Aceito total responsabilidade pelas minhas ações", completou.
De realçar que, durante a Segunda Guerra Mundial, milhares de ucranianos lutaram ao lado da Alemanha, mas muitos outros serviram no Exército Vermelho, as forças armadas da extinta União Soviética.
Entretanto, a CIJA agradeceu "o pedido de desculpas emitido", algo imperativo para "garantir que um incidente tão inaceitável não ocorra novamente".
Note-se que a situação levou a que o primeiro-ministro canadiano fosse acusado de também ser responsável pelo incidente, nomeadamente por parte do líder conservador da oposição do Canadá, Pierre Poilievre. Contudo, o gabinete de Trudeau defendeu que a decisão de convidar Hunka foi tomada apenas pelo gabinete do presidente da Câmara dos Comuns, não tendo sido fornecido "nenhum aviso prévio" ao "gabinete do primeiro-ministro, nem à delegação ucraniana, sobre o convite ou o reconhecimento".
De realçar que também esta segunda-feira, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, criticou o convite do Canadá a Hunka, apelidando a situação de "ultrajante".
"Muitos países ocidentais, incluindo o Canadá, criaram uma geração jovem que não sabe quem lutou contra quem ou o que aconteceu durante a Segunda Guerra Mundial. E não sabem nada sobre a ameaça do fascismo", disse Peskov.
Segundo indica a imprensa internacional, Hunka serviu na 14.ª Divisão de Granadeiros Waffen-SS, uma unidade de voluntários sob o comando nazi, durante a Segunda Guerra Mundial.
Durante a Segunda Guerra Mundial, Hunka serviu na 14.ª Divisão de Granadeiros Waffen-SS, também conhecida como Divisão da Galiza – uma unidade voluntária composta maioritariamente por ucranianos étnicos sob o comando nazi.
Leia Também: "Boa notícia". Zelensky anuncia chegada de tanques de guerra Abrams