O PP não consegue formar governo em Espanha "há cinco legislaturas consecutivas" e "a raiz dos seus problemas está nas entranhas do Partido Popular, no seu próprio sistema tão degradado que acabou por ser parasitado pela extrema-direita", disse o deputado socialista Óscar Puente.
O deputado falava na sessão parlamentar de debate e votação da candidatura a primeiro-ministro do líder do PP, Alberto Núñez Feijóo, na sequência das eleições legislativas de 23 de julho, com os populares a reconhecerem que não têm os apoios suficientes para chegar ao Governo.
Óscar Puente foi o escolhido para falar no debate em nome do PSOE, a seguir ao próprio Feijóo, quando se esperava que fosse o líder dos socialistas, Pedro Sánchez, a debater com o candidato a primeiro-ministro no parlamento, como sempre aconteceu em Espanha.
Sánchez, que pretende ser reconduzido como primeiro-ministro depois desta investidura, à partida, falhada de Feijóo, optou por quebrar a regra assumida até à data e não se levantou para participar no debate, desencadeando críticas por parte dos deputados do PP, que interromperam com gritos e até pancadas com os pés a intervenção de Óscar Puente.
O deputado socialista dirigiu-se a Feijóo "de vencedor para vencedor" de eleições, uma vez que foi o mais votado nas autárquicas de maio na cidade de Valladolid, mas não chegou a ser presidente da câmara por causa de uma coligação do PP com o VOX (extrema-direita).
"Uma coligação de perdedores", disse Óscar Puente, com ironia, usando uma expressão a que Feijóo tem recorrido para criticar a ambição de Sánchez de ser reconduzido primeiro-ministro apesar de o PSOE ter sido o segundo mais votado nas legislativas, a seguir ao PP.
Óscar Puente, sempre com recurso à ironia, saudou depois as "coligações de perdedores" que já chegaram ao poder em Espanha pela mão do PP em regiões e autarquias em que o PSOE venceu as eleições, sublinhando que incluem governos de cinco regiões autónomas e de perto de 150 câmaras municipais "parasitados pela extrema-direita que não acredita na União Europeia (UE) e na democracia" formados desde que o próprio Feijóo assumiu, no ano passado, a liderança do Partido Popular.
"Explique-me, senhor Feijóo, de vencedor para vencedor, por que é que tem mais direito de ser presidente do Governo do que eu de ser presidente da câmara de Valladolid?", afirmou, pedindo ao líder do PP para respeitar a Constituição e o sistema parlamentar que estabelece.
Óscar Puente criticou e tentou ridicularizar até Feijóo por "se atrever" agora a pedir a abstenção aos socialistas para poder ser primeiro-ministro depois de na campanha eleitoral ter apresentado como única proposta "a revogação do 'sanchismo' [nome associado a Sánchez]" da última legislatura.
O deputado socialista lamentou ainda que o PP tente "provocar uma rebelião" no PSOE, procurando "dissidentes e traidores" que viabilizem o governo de Feijóo, e aconselhou o líder dos populares a "preocupar-se com as suas próprias fileiras", considerando que "a máquina" do partido já se prepara há um mês para o derrubar.
Óscar Puente disse que o PP atual é "o mais rançoso da sua história", acusou Feijóo de esconder rendimentos e de mentiras permanentes e lembrou uma amizade de anos do líder dos populares com um condenado por tráfico de droga, recuperando um caso já conhecido.
Na resposta, Feijóo disse que recusava "entrar no clube da comédia" de Óscar Puente e lamentou que a opção do deputado socialista tenha sido "a calúnia".
Dirigindo-se a Sánchez, Feijóo lamentou a recusa em debater no parlamento e considerou que a atitude do líder do PSOE confirma "a anomalia" em que vive Espanha desde que o atual primeiro-ministro assumiu o cargo.
"É lamentável o nível de deterioração institucional. É o seu legado, senhor Sánchez. O PSOE atingiu hoje o zénite do seu desprestígio como partido histórico da democracia espanhola", afirmou.
O PP foi o partido mais votado nas eleições de 23 de julho e o Rei de Espanha, Felipe VI, indicou Feijóo como candidato a primeiro-ministro, cuja investidura será votada na quarta-feira e, em princípio, também na sexta-feira, numa segunda ronda prevista na Constituição espanhola.
Se se confirmar o fracasso da investidura de Feijóo, o Rei de Espanha deverá indicar a seguir um novo candidato a primeiro-ministro, com Sánchez a afirmar repetidamente que está disponível e que tem condições para reunir os apoios necessários.
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