Foi, pela segunda vez em 48 horas, chumbada a proposta de governo liderada por Alberto Núñez Feijóo, líder do Partido Popular (PP), que não conseguiu arrecadar o número suficiente de votos no Congresso dos Deputados, pela segunda vez.
A proposta de Feijóo arrecadou apenas 173 votos a favor, sendo necessários 176 para atingir a maioria. Contra votaram, por outro lado, 177 parlamentares.
Já na quarta-feira, na primeira votação, Feijóo conseguiu arrecadar apenas 172 votos a favor, contando-se 178 votos contra.
Desta vez, Feijóo teve menos um voto contra por ter sido considerado nulo o voto de um deputado do partido separatista Juntos pela Catalunha (JxCat).
Além dos 137 deputados do PP, votaram a favor da investidura de Feijóo como primeiro-ministro os 33 parlamentares do VOX (extrema-direita) e os dois dos partidos regionais Coligação Canária e União do Povo Navarro (UPN).
Todos os restantes partidos (de esquerda, nacionalistas e independentistas da Galiza, Catalunha e País Basco) votaram contra e não houve qualquer abstenção.
Agora, o rei Felipe VI deverá indicar um novo candidato a primeiro-ministro, com o socialista Pedro Sánchez a afirmar repetidamente que está disponível e que tem condições para reunir os apoios necessários para ser reconduzido no cargo pelo parlamento.
O PP foi o partido mais votado nas eleições de 23 de julho e o Rei de Espanha, Felipe VI, indicou Feijóo como candidato a primeiro-ministro, com a investidura a ter de ser votada e aprovada pelo Congressos dos Deputados. Tal, no entanto, fracassou, deixando, novamente, caminho aberto para que Sánchez possa ser reconduzido como chefe do governo espanhol.
O Congresso dos Deputados tem até 27 de novembro, dois meses após a primeira votação da candidatura de Feijóo, para eleger um novo chefe do Governo e evitar a repetição das eleições legislativas em janeiro.
Numa intervenção no plenário ainda antes da votação, Alberto Núñez Feijóo reconheceu a derrota e desafiou Sánchez a repetir as eleições, por considerar que seria um cenário "mais decoroso" do que "o governo da mentira" que o socialista quer encabeçar.
Feijóo disse que Sánchez vai ter o apoio dos independentistas catalães a troco de uma amnistia para os envolvidos na declaração unilateral de independência da Catalunha em 2017 e de um referendo de autodeterminação cuja possibilidade o socialista negou antes das eleições, não tendo "o consentimento" dos espanhóis para o fazer.
"Consiga-o com transparência e tranquilidade nas urnas", disse Feijóo, dirigindo-se a Sánchez, a quem desafiou também a falar hoje ao plenário do Congresso dos Deputados para responder "sim ou não à amnistia e ao referendo".
Sánchez não participou hoje, nem nos dias anteriores, no debate de investidura de Feijóo, que na sua intervenção repetiu que poderia chegar a líder do Governo se cedesse aos independentistas e nacionalistas, mas preferia manter os seus princípios, ao contrário de outros líderes partidários.
Na resposta, os partidos de esquerda, nacionalistas e independentistas disseram-lhe que isso não é verdade e que não vai governar por se ter aliado à extrema-direita e, assim, ter impossibilitado qualquer ponte com outras formações.
"Nós também temos princípios e um deles é não fazermos política com a extrema-direita", disse o deputado do Partido Nacionalista Basco (PNV, na sigla em espanhol) Aitor Esteban, que lembrou que o VOX, entre outras coisas, quer acabar com as autonomias em Espanha e partidos como o PNV.
"Não quiseram [os dirigentes do PP] pôr um cordão sanitário em redor da extrema-direita e hoje é o Congresso dos Deputados que coloca um cordão sanitário" em redor do PP, disse, por seu turno, Óskar Matute, do partido basco EH Bildu, que sublinhou que "os direitos fundamentais, a xenofobia, a misoginia e LGBTIfobia não são matéria de debate".
Os partidos independentistas acusaram ainda o PP de não ter "nem uma só proposta para resolver o conflito político que existe entre a Catalunha e Espanha", nas palavras de Miriam Nogueras, do JxCat.
[Notícia atualizada às 14h23]
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