"O que afirmarmos é que é altamente lamentável. Não podemos condená-lo, é lamentável porque, igualmente, temos sido consistentes em lamentar a conduta do Estado de Israel em relação a dezenas de milhares de palestinos que foram mortos, cujas terras foram desapropriadas", disse o vice-ministro das Relações Internacionais e Cooperação sul-africano, Alvin Botes, à comunicação social.
Questionado se o governo do Congresso Nacional Africano (ANC), antigo movimento de libertação aliado da causa palestiniana, condenava a recente ofensiva militar do Hamas, em território israelita, o governante sul-africano declarou à rádio 702 de Joanesburgo que "reconhecemos que estas são as ações, infelizmente, mas trata-se de proteger a causa das pessoas oprimidas".
"Se condenarmos categoricamente a conduta do Hamas, é igualmente verdade que durante a luta anti-'apartheid' na África do Sul, a comunidade internacional teria condenado a luta armada do uMkhonto we Sizwe [a ala armada do ANC]", salientou Botes.
"O que isto exige é uma cessação imediata e um regresso à mesa de negociações", apelou o governante sul-africano do partido ANC de Nelson Mandela, no poder desde 1994 na África do Sul.
A ofensiva militar lançada com milhares de foguetes e incursões armadas pelo movimento islâmico Hamas na manhã de sábado no território israelita resultou em mais de 700 mortos, incluindo crianças e pelo menos 260 jovens de várias nacionalidades que participavam num festival de música no deserto, havendo ainda uma centena de sequestrados, alguns também estrangeiros, segundo as autoridades israelitas.
O grupo armado Hamas, que prosseguiu a ofensiva nesta segunda-feira, é considerado uma organização terrorista por Israel, a União Europeia, EUA, Japão, Canadá, Reino Unido, Alemanha, França e Portugal, que condenaram os ataques. O Irão felicitou os combatentes palestinianos.
Em resposta ao ataque terrorista surpresa, Israel declarou o estado de guerra, bombardeando a Faixa de Gaza.
Em comunicado, o Ministério das Relações Internacionais e Cooperação da África do Sul (DIRCO, na sigla em inglês) afirmou que a região "necessita desesperadamente de um processo de paz credível".
"A África do Sul expressa a sua grave preocupação com a recente escalada devastadora do conflito israelo-palestiniano. A nova conflagração surgiu da contínua ocupação ilegal de terras palestinianas, da contínua expansão dos colonatos, da profanação da mesquita de Al Aqsa e dos locais sagrados cristãos, e da contínua opressão do povo palestiniano", salientou.
"A região necessita desesperadamente de um processo de paz credível que cumpra os apelos de uma infinidade de resoluções anteriores da ONU para uma solução de dois Estados e uma paz justa e abrangente entre Israel e a Palestina", adiantou.
Entretanto, a ministra das Relações Internacionais e Cooperação sul-africana, Naledi Pandor, cancelou uma visita agendada à Palestina, informou o seu gabinete, após as autoridades de Israel recusarem dar à chefe da diplomacia sul-africana "passagem para o território palestino através do território do Estado de Israel", segundo a imprensa local.
A República Islâmica do Irão, que rejeitou acusações de alegado envolvimento na ofensiva militar do Hamas, assinou um acordo de cooperação com Pretória no setor da Defesa no passado mês de julho.
Em agosto, o Presidente da África do Sul Cyril Ramaphosa anunciou a entrada da República Islâmica do Irão e da Arábia Saudita no grupo de economias emergentes BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), países que serão membros efetivos do bloco a partir de 01 de janeiro de 2024.
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