"As eleições vão decidir se a Polónia ainda vai estar na União Europeia, se ainda vai ser uma democracia, ou se - e tenho a certeza que isso não vai acontecer, a Lei e a Justiça [PiS, partido conservador populista no poder] -- vai ganhar e formar um governo com a Confederação [extrema-direita]", disse Anna-Maria Zukowska, candidata a deputada pela coligação Esquerda (Lewica em polaco), na noite de encerramento de campanha eleitoral em Varsóvia.
Este seria "o pior cenário possível", afirmou a política à margem de um comício-discoteca no centro da capital polaca, porque implicaria o envolvimento de pessoas [da Confederação "anti-imigrantes, anti-LGBT, anti-direitos das mulheres, anti-civilização, anti-tudo", exceto num aspeto, "são prórrussos e e estamos a lutar contra eles".
As críticas estendem-se à política de migração do PiS e que merecerá duas perguntas em referendos paralelos às legislativas de domingo,
"É um tema levantado pelo partido no poder, que, para ganhar eleições, ameaça as pessoas que, se a oposição ganhar, haverá uma enxurrada de migrantes para a Polónia e, no entanto, não é verdade porque já temos requerentes de asilo da Ucrânia, da guerra, e poderíamos estar a ser ajudado por outros países europeus", observou, numa alusão ao pacto migratório da União Europeia que Varsóvia rejeitou.,
Cerca de trinta milhões de eleitores polacos são chamados às urnas no domingo para escolher entre a continuidade num terceiro e inédito mandato do PiS, liderado pelo dirigente histórico Jaroslaw Kaczynski, e os liberais da Plataforma Cívica PO), do ex-presidente do Conselho Europeu Donald Tusk, numa votação altamente polarizada em que as sondagens dão uma descida das forças políticas dominantes e uma subida das menos expressivas, com a Esquerda e a Terceira Via a situarem-se ambos entre os 10% e os 15% e a Confederação nos 8%.
"As pessoas querem otimismo, querem esperança, querem mudança e nós somos essa força que pode entregar isso e até o fim", referiu Anna-Maria Zukowska, no pequeno comício nas margens do rio Vístula.
A par das eleições legislativas, que decorrem em plena guerra no país vizinho, Ucrânia, e entre tensões que marcaram as relações entre Varsóvia e Kiev nas últimas semanas, vão realizar-se quatro referendos, os mais controversos dos quais dedicados ao controlo da imigração e ao aumento da idade de reforma.
Quando as sondagens afastam um vencedor claro a dois dias da votação e a possibilidade quase certa de as duas principais forças terem de negociar a viabilização de um executivo em caso de vitória, as eleições na Polónia ganharam importância acrescida, não só por aquilo que podem implicar em termos de mudanças internas, após oito anos de domínio absoluto dos populistas conservadores, como também no impacto na política externa de Varsóvia e na tensa relação que tem vivido com a União Europeia.
"Se a oposição democrática ganhar, isso significará que a Polónia voltará ao centro da União Europeia, porque somos o quinto país em número de habitantes, ou seja somos uma sociedade muito grande e por isso merecemos estar bem representadas na União Europeia e trazer a Polónia de volta aos tribunais europeus ", afirmou Anna-Maria Zukowska, numa referência à desobediência de Varsóvia às decisões comunitárias sobre o bloqueio de cereais ucranianos e também ao congelamento de verbas de Bruxelas devido a desvios ao Estado de Direito interferência na independência dos tribunais.
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