Numa reunião do Conselho de Segurança da ONU, a representante especial para o Haiti e chefe do Gabinete Integrado das Nações Unidas no Haiti (BINUH), María Isabel Salvador, deu como exemplo dessa violência o facto de o secretário-geral do Alto Conselho de Transição ter sido "raptado em plena luz do dia por membros de um gangue disfarçados de agentes da polícia".
"Os assassínios e a violência sexual, incluindo violações coletivas e mutilações, continuam a ser utilizados pelos gangues todos os dias e num contexto de um serviço de apoio às vítimas ineficaz ou sem uma resposta robusta da justiça", disse Salvador.
Segundo o mais recente relatório do secretário-geral da ONU, António Guterres, sobre o Haiti, "os crimes graves, incluindo homicídios intencionais e sequestros, registaram um aumento sem precedentes", principalmente nas regiões de Ouest e Artibonite.
Assim, entre 01 de julho e 30 de setembro, a Polícia Nacional reportou 1.239 homicídios, em comparação com 577 no mesmo período de 2022. E de julho a setembro, 701 pessoas -- incluindo 221 mulheres, oito meninas e 18 meninos -- foram vítimas de sequestro, 244% mais face ao período homólogo do ano passado.
Além disso, a crise de segurança ganhou uma nova complexidade com a entrada em cena de grupos de vigilantes, com o BINUH a registar, entre 24 de abril e 30 de setembro, o linchamento de pelo menos 395 alegados membros de gangues.
María Isabel Salvador manifestou ainda "preocupação" por ver que os esforços rumo às eleições não estão a avançar ao ritmo desejado.
"Não pode haver segurança duradoura sem uma restauração das instituições democráticas -- e é impossível alcançar soluções políticas duradouras e totalmente representativas sem uma melhoria drástica na situação de segurança", frisou Salvador, citando António Guterres.
À medida que a violência de gangues que controlam mais de metade da capital Port-au-Prince continua a piorar, o Conselho de Segurança da ONU deu 'luz verde', no início deste mês, ao envio de uma missão multinacional liderada pelo Quénia, para ajudar a sobrecarregada polícia haitiana.
A aprovação do Conselho de Segurança fez aumentar "as expectativas de milhões de haitianos no país e no exterior", disse a líder do BINUH, acrescentando que a missão multinacional "despertou um vislumbre de esperança" no país.
De acordo com a resolução do Conselho de Segurança, o Quénia e os outros países que participarão nesta força, cujos contornos ainda não são claros, deverão desenvolver o plano de operação da missão.
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