Israel "está a cometer crimes de guerra", diz ex-secretário-geral da NATO
O ex-secretário-geral da NATO e ex-chefe da diplomacia europeia, Javier Solana, disse hoje que as leis dos crimes de guerra são muito particulares, afirmando ainda que "sim, Israel está a cometer crimes de guerra".
© Lusa
Mundo Javier Solana
No seu livro "Testigo de un tiempo incierto" ["Testemunha de um tempo incerto", em português], Solana afirmou ter visto "o sofrimento em Gaza durante muitos anos".
"Quando eu estava no comando, abrimos a passagem de Gaza pela primeira vez com as forças policiais europeias. Conheço bem o local e sei as dificuldades que lá se estão a passar. Gaza é uma prisão a céu aberto", disse Solana.
O ex-secretário-geral da NATO acredita que Israel estaria a cometer um grande erro caso entrasse no território da Faixa de Gaza com tanques, sugerindo assim a criação de corredores humanitários.
Questionado sobre o atraso da incursão terrestre de Israel em Gaza, o mesmo respondeu que "eles têm o objetivo de desarmar o Hamas e para os desarmar têm de entrar no seu território".
"Estamos num momento difícil e é necessário fazer tudo o que for possível para alcançar um cessar-fogo e corredores humanitários. Isto depende, em grande medida, da reação da comunidade internacional. Se não for fortemente apoiada pelos Estados Unidos, será muito difícil", acrescentou.
O grupo islamita Hamas lançou em 07 de outubro um ataque surpresa contra o sul de Israel com o lançamento de milhares de foguetes e a incursão de milicianos armados, fazendo duas centenas de reféns.
Em resposta, Israel declarou guerra ao Hamas, movimento que controla a Faixa de Gaza desde 2007 e que é classificado como terrorista pela União Europeia e Estados Unidos, bombardeando várias infraestruturas do grupo na Faixa de Gaza e impôs um cerco total ao território com corte de abastecimento de água, combustível e eletricidade.
O conflito já provocou milhares de mortos e feridos, entre militares e civis, nos dois territórios.
Solana recordou também que nos últimos anos registou-se uma grande transformação na Rússia e que os ataques do 11 de setembro nos Estados Unidos constituíram um "drama de grandes dimensões".
"Para o ano teremos as eleições na Rússia, nos EUA, na UE e em Taiwan. Vamos estar todo o ano sem saber muito bem quem vai ganhar as eleições, o que vai gerar um nível de incerteza", afirmou.
Para Javier, o problema mais grave é o dos Estados Unidos.
"A sua vida política está completamente fragmentada. Não há mais nada que una Biden e Trump para além da China. Um a querer negociar e o outro a querer odiá-la", comentou.
Relativamente à Rússia, explicou que o que o Presidente Vladimir Putin pretende é "prolongar a situação na Ucrânia".
"Ele vai ter eleições em janeiro, fevereiro ou março, e quer chegar um pouco mais erguido. Hoje não o está. Vai tentar ajudar um pouco os terroristas sem dar nas vistas e pouco mais que isso", disse.
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