Casamento infantil proibido no Peru após 4.000 casos em nove anos

O Parlamento do Peru aprovou na quinta-feira uma lei que altera o Código Civil para proibir o casamento infantil no país, depois de mais de 4.000 mil casos nos últimos nove anos, segundo dados oficiais.

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© REUTERS/Aly Song

Lusa
03/11/2023 06:55 ‧ 03/11/2023 por Lusa

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Peru

O projeto de lei que altera o Código Civil, apresentado pela Comissão de Justiça e Direitos Humanos, recebeu o voto favorável de 113 deputados, nenhum voto contra e três abstenções, tendo, por isso, sido dispensado de uma segunda votação. Está pronto para ser promulgado.

Várias organizações saudaram a decisão do Congresso peruano de alterar cinco artigos do Código Civil e acrescentar outro que define que menores de 18 anos "não podem casar", que o matrimónio com um tutor adulto está proibido e que um dos motivos para anular o laço matrimonial é as partes terem menos de 18 anos.

"Hoje é um dia histórico para as crianças e adolescentes do Peru. (...) Começamos o mês que comemora os direitos das crianças com esta grande notícia", escreveu o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) no Peru na rede social X.

Já o Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA) declarou: "Hoje as raparigas ganharam!"

Acrescentou, na mesma rede social, que o fundo vai continuar a "contribuir para proteger os direitos e as escolhas para que ninguém fique para trás".

O movimento feminista Manuela Ramos frisou, também na X, que "os abusadores não poderão continuar a esconder-se atrás do casamento infantil forçado para procurar impunidade".

Em representação da Comissão de Justiça e Direitos Humanos, a presidente, Janet Rivas, sustentou que o projeto de lei está em consonância com as normas internacionais sobre a proteção dos direitos humanos dos menores face a práticas nocivas como o casamento infantil.

"É importante salientar que o casamento de menores não é neutro em termos de género, uma vez que afeta mais as mulheres, aumentando o risco de morbilidade e morte materna ou neonatal, o risco de sofrer violência de género e violência no ambiente familiar, o abandono escolar, o aumento e a reprodução da pobreza, entre outros", acrescentou.

A deputada Flor Pablo, uma das promotoras da legislação, agradeceu o trabalho de equipa com organizações sociais, líderes comunitários e colegas congressistas: "Hoje conseguimos erradicar esta prática nociva que condenava as nossas raparigas a um ciclo de abuso, pobreza e estagnação dos seus projetos de vida, especialmente nas zonas mais remotas do país", afirmou a deputada.

As declarações de Flor Pablo contrastaram com as do deputado José María Balcázar, atual presidente da Comissão de Educação, que afirmou que "todos têm relações". "Professores com alunos, mestres com alunos, entre alunos também", exemplificou.

"A lei [anterior] é ótima, a partir dos 14 anos podem casar-se. Não há qualquer problema, podem assinar contratos, podem fazer o que quiserem. O estranho seria se a rapariga violada casasse com o violador. Isso seria grave. Aqui no Peru, alguns casos podem ser isolados, mas geralmente [os agressores sexuais] vão para a prisão".

As declarações do legislador foram rejeitadas pelo Ministério da Mulher e das Populações Vulneráveis, que afirmou que estes factos "escondem uma situação de violência sexual contra meninas e adolescentes, uma situação dolorosa e desprezível que afeta gravemente o seu bem-estar integral e o exercício dos seus direitos fundamentais".

Leia Também: Grupo marroquino pede proibição do casamento de menores e da poligamia

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