Cessar-fogo "seria um erro para Israel" e "uma vitória para o Hamas"

O analista de política externa Max Boot acredita que se Israel parasse agora os seus combates em Gaza, "o Hamas declararia vitória" e isso geraria uma enorme crise de confiança na liderança israelita e nas suas forças armadas.

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© REUTERS/Raneen Sawafta

Lusa
03/11/2023 10:28 ‧ 03/11/2023 por Lusa

Mundo

Max Boot

Num encontro com a imprensa organizado pelo Council on Foreign Relations, um instituto de análise em Nova Iorque, vários especialistas discutiram a guerra em curso entre Israel e o Hamas e as implicações para Gaza e para o Médio Oriente, com Boot a defender que um cessar-fogo neste momento "seria um erro para Israel".

"Precisamos de ser claros sobre o que significa um cessar-fogo: seria uma vitória para o Hamas. Daria continuidade à ameaça do Hamas contra Israel (...), mas também seria uma vitória para o Irão, porque o Hamas faz parte do eixo de resistência com a estratégia de procuração do Irão em torno da região", disse o historiador, que acredita que é por esses motivos que o Governo de Joe Biden não está a pedir por um cessar-fogo.

"Acho que os líderes árabes entendem isso. Acho que, em privado, muitos deles apoiam bastante a ofensiva israelita, embora não o façam publicamente", avaliou.

De acordo com o analista, Israel precisa de ter mais cuidado com os seus alvos, algo que não considera fácil, num momento em que se acumulam as acusações de crimes de guerra cometidos durante a ofensiva israelita.

A especialista em assuntos internacionais e segurança nacional Linda Robinson considera que a destruição, a falta de refúgio para civis e a escassez de ajuda a Gaza são problemas que continuarão a aumentar e a prejudicar quer o Governo de Israel, quer o executivo norte-americano.

Na quinta-feira, dia em que Joe Biden anunciou que 74 norte-americanos com dupla nacionalidade deixaram a Faixa de Gaza, Linda Robinson considerou positivo que haja movimentos na libertação de cidadãos retidos no enclave, mas sublinhou que há um "contrapeso" na "preocupação crescente" expressada por países que defendem o direito de Israel à autodefesa e que denunciam o Hamas como uma organização terrorista, mas que não apoiam o impacto desta ofensiva nos civis palestinianos.

De acordo com a analista, as reações diplomáticas começam a aumentar e as preocupações imediatas não se ficam pela possível falta de proporcionalidade e pelas significativas vítimas civis, mas também pelo facto de os ataques israelitas não estarem restritos aos norte de Gaza, mas aconteçam também no sul e no centro da Faixa.

"Isto está a criar questões sobre que tipo exato de refúgio está disponível para os civis que ali se encontram", disse Linda Robinson, salientando que a questão dos reféns detidos pelo hamas continua a ser uma questão de máxima importância para os israelitas.

O grupo islamita Hamas - classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos, a União Europeia e Israel - lançou em 07 de outubro um ataque surpresa contra o sul de Israel com o lançamento de milhares de foguetes e a incursão de milicianos armados, assassinando cerca de 1.400 pessoas e fazendo mais de duas centenas de reféns.

Em resposta, Israel declarou guerra ao Hamas, movimento que controla a Faixa de Gaza desde 2007 e que é classificado como terrorista pela União Europeia e Estados Unidos, bombardeando várias infraestruturas do grupo na Faixa de Gaza e impôs um cerco total ao território com corte de abastecimento de água, combustível e eletricidade.

O conflito já provocou milhares de mortos e feridos, entre militares e civis, nos dois territórios.

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