"Pode ter impacto em termos de angariar financiamento", disse à Lusa o professor de ciência política Brian Adams, da Universidade Estadual da Califórnia em San Diego. "Certos doadores podem decidir a quem vão dar dinheiro com base no apoio ou oposição do candidato a Israel".
O analista considerou que a polarização também tem potencial para afetar o Congresso em certos distritos nas eleições de 2024.
"No Michigan há uma grande comunidade muçulmana e isto pode ter importância", exemplificou o docente. "O impacto será pequeno, mas num estado com margens muito apertadas, um pequeno impacto pode fazer a diferença".
O presidente Joe Biden posicionou a sua administração firmemente em apoio a Israel desde o início do conflito, quando o Hamas lançou ataques terroristas ao país do Médio Oriente e tomou mais de 200 reféns.
No entanto, algumas fações do partido democrata criticaram este apoio unívoco, incluindo membros do grupo conhecido como "The Squad" e composto por quatro congressistas muito progressistas -- Rashida Tlaib do Michigan, Alexandra Ocasio-Cortez de Nova Iorque, Ilhan Omar do Minnesota e Ayanna Pressley do Massachusetts.
"Como Palestiniana-americana e muçulmana, não vou esquecer isto", disse Rashida Tlaib durante um protesto no Capitólio contra a posição da Casa Branca. Esse discurso originou um pedido de censura levantado pela Republicana Marjorie Taylor Greene, mas bloqueado pela maioria dos congressistas, incluindo 23 Republicanos.
Ilhan Omar apontou, em conferência de imprensa, para o que considera ser um padrão duplo de julgamento e uma valorização de vidas israelitas acima das vidas palestinianas.
Também Cori Bush, Democrata do Missouri, apelou a um cessar-fogo imediato e disse que os palestinianos merecem liberdade e autodeterminação.
A divisão tem estado patente na forma como os congressistas Democratas estão a votar em resoluções relativas ao conflito. Na semana passada, nove votaram contra uma resolução que condenava o Hamas e apoiava Israel e seis abstiveram-se, votando apenas presente.
O politólogo Brian Adams considera que a questão também pode reverberar do outro lado da barricada, apesar da unanimidade Republicana no apoio a Israel.
"O problema de Trump, embora tenha dado o seu apoio incondicional a Israel, é que tem esta associação a grupos de extrema-direita e antissemitas", afirmou o professor. "Isso vai dificultar que eleitores e doadores judeus o apoiem totalmente".
Tal não deverá influenciar os eleitores evangélicos, que são vincadamente pró-Israel, indicou.
"O eleitor mediano não vai votar em Biden ou Trump com base nas suas posições relativas a Israel, mas isso pode ser importante de outras formas", frisou Adams. "Numa mão cheia de estados, pode ter um impacto secundário". Em estados com margens mais apertadas, tanto para o controlo do Congresso como na eleição do próximo presidente, poderá ser determinante.
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