"Certamente que esses acordos me provocam bastantes preocupações", disse Josep Borrel, em Bruxelas, em resposta a uma pergunta numa conferência de imprensa.
Borrell acrescentou que "se trata de um problema complexo e difícil" sobre o qual prometeu pronunciar-se, mas "no momento próprio, não agora".
"Estou aqui agora como alto representante da União Europeia para a Política Externa, numa conferência de imprensa numa instituição comunitária (...) e é evidente que não posso misturar o meu papel com considerações pessoais sobre um problema de política interna espanhola", explicou.
"Não quer dizer que não tenha a minha opinião e em algum momento a expressarei, porque tenho pleno direito a fazê-lo, sem envolver as instituições europeias", acrescentou.
Borrell disse ainda que todas as pessoas que o conhecem em Espanha, assim como à sua "trajetória política e profissional prévia" podem imaginar aquilo que pensa sobre os acordos do partido socialista espanhol (PSOE) com dois partidos independentistas catalães.
Desses acordos faz parte uma amnistia de independentistas catalães envolvidos na tentativa de autodeterminação da Catalunha que culminou com uma declaração unilateral de independência em 2017.
A amnistia está a ser contestada pelos partidos de direita e associações de juízes e procuradores, entre outros setores.
Josep Borrell, catalão, é alto representante da União Europeia para a política externa desde dezembro de 2019 e foi o ministro dos Negócios Estrangeiros do atual primeiro-ministro de Espanha e líder do PSOE, Pedro Sánchez, tendo deixado o cargo para ir para Bruxelas.
Antigo eurodeputado e presidente do Parlamento Europeu, Borrell foi, na década de 1990, ministro de líder do PSOE.
Durante a tentativa de autodeterminação da Catalunha, Josep Borrell foi uma das vozes consideradas mais simbólicas da defesa da unidade de Espanha e contra o separatismo.
O parlamento espanhol vai fazer na quarta e quinta-feira desta semana o debate e votação da reeleição de Pedro Sánchez como primeiro-ministro.
Sánchez fechou na semana passada os acordos parlamentares que, à partida, viabilizarão um novo Governo de esquerda em Espanha, na sequência as eleições legislativas de 23 de julho.
Com os acordos que alcançou, Sánchez prepara-se para liderar um Governo de coligação de esquerda formado pelo PSOE e pelo Somar e viabilizado, no parlamento, por mais seis partidos regionalistas, nacionalistas e independentistas das Canárias, Catalunha, Galiza e País Basco.
Se se confirmarem os votos a favor de todas estas formações políticas, Sánchez conseguirá ser reelegido primeiro-ministro de Espanha com o apoio de uma maioria absoluta de 179 dos 350 deputados espanhóis.
Na legislatura anterior, Sánchez foi eleito chefe do Governo de Espanha com uma maioria simples de 167 votos a favor, 18 abstenções e 165 votos contra.
Entre os votos contra esteve então, em janeiro de 2020, o de um partido catalão que agora vai viabilizar o novo Governo do socialista: Juntos pela Catalunha, do ex-presidente do governo regional Carles Puigdemont, protagonista da tentativa de autodeterminação de 2017 e que vive na Bélgica desde esse ano para fugir à justiça espanhola.
O PSOE foi o segundo partido mais votado nas eleições de 23 julho e a esperada reeleição de Sánchez como primeiro-ministro segue-se a uma tentativa falhada de formação de um Governo de direita do Partido Popular (PP), no final de setembro.
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