Da água à fruta, vendem de tudo na rua para sustentar a família, carregam os filhos nas costas e à cabeça o peso de um dia-a-dia que as obriga a "todos os dias estar de pé para ir procurar o que faz falta".
"Começam desde as cinco horas da manhã até ao pôr-do-sol para ir procurar dar de comer à família", enfatiza à Lusa Antónia Adama Djaló, presidente da Associação de Mulheres das Atividades Económicas (AMAE).
Os 50 anos de independência que o país completou em 24 de setembro, e festeja na quinta-feira, pouco alteraram nas rotinas, mas trouxeram novos modelos de organização que realçaram o papel das mulheres na sociedade guineense.
Continuam a ser as mais vulneráveis à pobreza, continuam afastadas da escola, com mais de 70% das mulheres adultas analfabetas, e a viver dos pequenos negócios, mas ganharam fôlego.
Em 1992, foi criada a AMAE, uma organização das mulheres, copiando um modelo do Brasil, que apoia a criação de cooperativas, alfabetização, planeamento familiar, gestão financeira e crédito.
A associação atua em todo o território nacional sob o lema "produzir e vender para sustentar a família e desenvolver a nação".
Com pequenos negócios, como vender água, mancarra (amendoim) e outros produtos locais, são as mulheres que todos os dias fazem dinheiro "para poder dar o sustento aos filhos [e estes] irem à escola, para a saúde e tudo mais", segundo a dirigente.
Antónia aponta o exemplo dela, que é funcionária no Ministério da Defesa, mas viu que o salário não é suficiente para sustentar a família e fez um anexo em casa, onde começou a vender peixe.
"Eu sou vendedeira de peixe. Saio às cinco da manhã, começo a vender até seis e meia, sete horas, vou para o serviço, às sete e meia tenho que estar lá", conta à Lusa.
Se não fizesse isto, com o salário de funcionária pública "nem sequer comia, e muitas outras mulheres fizeram isso para poderem aguentar a família", enquanto outras o único recurso que têm é a venda de rua.
Antónia dirige há 31 anos a AMAE, que tem entre os membros mulheres de todas as atividades económicas, até juristas, e que já mudou a vida de várias associadas.
"Sou o que sou hoje graças a essa organização. Consegui construir uma casa, pus os filhos a estudar, eu e outras mulheres", vinca.
A associação está presente em todo o território guineense com vários projetos económicos e também de sensibilização e informação, nomeadamente contra doenças como a sida.
O mais emblemático projeto é a caixa de residência, lançado há seis anos, para poupança e solidariedade.
No ano passado, "pelas caixas do sul passaram à volta de 12 milhões de francos cfa [cerca de 18.000 euros] e, apenas em Mansôa, 20 caixas movimentaram 318 milhões [cerca de 485 mil euros], na época do caju", uma das maiores riquezas da Guiné-Bissau.
Os valores e periodicidade das entregas para esta caixa-poupança depende da possibilidade de cada membro, e, numa caderneta, ficam registadas as entradas, com a supervisão de um comité.
O acumulado serve para investir, emprestar uns aos outros ou conseguir desenvolver a subsistência de cada um.
Com a poupança, como conta Antónia, "há mulheres que compram camas, outras preparam a casa, até há aquelas que ajudaram o marido a comprar maquinaria para carpintaria".
"Agora até os homens estão a aderir", diz.
O projeto está mais presente nas zonas remotas do país, onde o Estado não consegue ir e dá apoio à associação para lá chegar, tendo esta como parceiros e dadores outras organizações, nomeadamente das Nações Unidas.
A Guiné-Bissau autoproclamou a sua independência de Portugal em 24 de setembro de 1973, mas as comemorações oficiais estão marcadas para 16 de novembro, dia das Forças Armadas.
Entre os líderes convidados para as cerimónias oficiais estão o Presidente e primeiro-ministro portugueses, Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa, mas o programa oficial ainda não foi divulgado.
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