Após meses de antecipação e depois de o mundo inteiro ter partilhado as suas opiniões sobre o filme 'Oppenheimer', o épico blockbuster realizado por Christopher Nolan vai finalmente estrear-se no Japão. A exibição do filme foi atrasado no país devido a várias críticas na sociedade civil sobre a forma como este foi promovido, especialmente tendo em conta a dolorosa memória coletiva quanto às bombas atómicas em Hiroshima e Nagasaki.
A empresa que distribuiu o filme no Japão, a Bitters End, afirmou que 'Oppenheimer', uma biografia sobre o cientista J. Robert Oppenheimer, deverá estrear-se no Japão no início de 2024.
Num comunicado, citado pelo The Guardian, a distribuidora reconheceu as críticas contra o marketing do filme e as feridas reabertas pelas piadas, pelo consumismo e pela promoção extenuante do fenómeno 'Barbenheimer' - um conceito cunhado pelas redes sociais durante a campanha de promoção dos filmes 'Barbie' e 'Oppenheimer', que se estrearam no mesmo dia.
"O assunto do filme é de grande importância e tem um significado especial para o povo japonês, portanto decidimos divulgar o filme no Japão após várias discussões e considerações", acrescentou a empresa.
A verdade é que foi difícil escapar aos memes, às imagens e a todos os conteúdos sobre o 'Barbenheimer'. Ambos os filmes não podiam ser esteticamente mais diferentes, com o rosa da 'Barbie' de Greta Gerwig a contrastar com o suspense sombrio de Christopher Nolan, e muitos fãs do cinema desafiaram-se a ver ambos os filmes no mesmo dia.
O fenómeno acabou por se tornar num dos maiores eventos da história moderna do cinema e os dois produtos atingiram recordes de receita, especialmente a 'Barbie', que atingiu os 1,4 mil milhões de euros de receita. Foi o filme mais visto do ano, o filme mais bem-sucedido realizado por uma mulher e o alcance e impacto mediáticos foram tão grandes que a figura da 'Barbie' foi considerada como a 100.ª mulher mais poderosa do mundo pela Forbes.
No entanto, as piadas com bombas nucleares e com a história que levou à invenção da arma não caíram bem no público japonês.
O Japão é, até agora, o único país a ser bombardeado com armas nucleares. Em agosto de 1945, as bombas de Hiroshima e Nagasaki mataram mais de 220 mil pessoas, e dezenas de milhares acabaram por morrer meses e anos mais tarde devido à radiação. A detonação de ambas as bombas levou à rendição do Japão e ao fim da Segunda Guerra Mundial.
Essa memória continua a ser difícil de recordar para os japoneses e, portanto, os memes a gozar com as bombas atómicas levaram à popularização do hashtag "#NoBarbenheimer" nas redes sociais japonesas.
"Barbie" is now trending on Japanese Twitter, with several very popular posts reacting to the official @barbiethemovie account's embrace of mushroom cloud Barbenheimer memes. Here are a few quick translations: https://t.co/3EGvCHjj6W pic.twitter.com/T9PDFinsYZ
— Jeffrey J. Hall 🇯🇵🇺🇸 (@mrjeffu) July 31, 2023
Uma imagem publicada que enraiveceu os utilizadores japoneses incluía Cilian Murphy, que interpreta o papel de Robert Oppenheimer (o criador da bomba atómica) com Margot Robbie no seu ombro, à frente de uma cidade em chamas. A conta oficial da 'Barbie' partilhou a imagem, escrevendo: "Este vai ser um verão inesquecível".
Na altura, a conta oficial da Warner Bros. lançou um comunicado na segunda-feira a pedir desculpas por uma publicação que fez com ambos os filmes, considerando "extremamente lamentável que a conta oficial na sede nos Estados Unidos tenha reagido a publicações do 'Barbenheimer' dos fãs".
O filme 'Oppenheimer', sobre o cientista responsável pelo projeto que criou a bomba atómica, estreou-se com grande sucesso noutros mercados asiáticos, nomeadamente na Coreia do Sul, e o jornal The Guardian sugere que o seu enorme sucesso em todo o mundo acabou por forçar a mão dos distribuidores japoneses.
Leia Também: Lembra-se do que pesquisou na Wikipédia? Eis os artigos mais lidos do ano