"O Conselho de Segurança obteve acordo para prosseguir hoje as negociações e fornecer mais tempo à diplomacia. A presidência vai reprogramar o voto para amanhã [quinta-feira]", declarou aos 'media' o embaixador do Equador, José Javier De la Gasca Lopez Dominguez, que preside em dezembro ao Conselho, e na sequência de vários adiamentos no voto desde a passada segunda-feira.
Segundo fontes diplomáticas citadas pela agência noticiosa AFP, os membros do Conselho de Segurança aceitaram um novo adiamento a pedido dos Estados Unidos.
O Conselho, muito criticado pela sua inação após o início da mais recente guerra entre Israel e o Hamas, negoceia há vários dias um texto de quatro páginas apresentado pelos Emirados Árabes Unidos e com o objetivo de que os seus 15 Estados-membros possam por fim "falar a uma só voz".
"Todo o mundo pretende uma resolução que tenha impacto e seja aplicável no terreno. Decorrem discussões sobre a forma de o garantir", comentou a embaixadora dos Emirados, Lana Zaki Nusseibeh.
Desde o sangrento ataque sem precedentes do Hamas contra diversas localidades israelitas nos arredores da Faixa de Gaza e as represálias do Exército israelita que está a devastar o enclave palestiniano, o Conselho apenas conseguiu por uma vez tomar posição.
Desta forma, adotou em 15 de novembro um texto que apela a "pausas humanitárias", mas rejeitou outros cinco textos em dois meses, o último pedindo um verdadeiro "cessar-fogo humanitário" e que foi bloqueado pelos Estados Unidos em 08 de dezembro.
Apesar do veto norte-americano, os Emirados, e na sequência de um voto esmagador na Assembleia Geral a favor de um cessar-fogo, promoveram uma nova iniciativa no Conselho "para ir um pouco mais longe" que a resolução de novembro.
A última versão da resolução apela a uma "suspensão urgente das hostilidades para permitir um acesso humanitário seguro e sem entraves, e a medidas urgentes para um fim duradouro das hostilidades", indicou a agência noticiosa AFP.
Uma formulação menos direta que a anterior, que solicitava um "fim urgente e duradouro das hostilidades", foi alterada a pedido dos norte-americanos, segundo fontes diplomáticas.
Israel e o seu aliado norte-americano opõem-se a um "cessar-fogo", e a terminologia que deverá ser aplicada -- "pausa", "trégua", "cessar-fogo humanitário" -- permanece no cerne das divisões no Conselho há mais de dois meses.
"Trabalhamos intensamente sobre este 'dossier'. Há dois dias que estou ao telefone sobre este assunto", declarou em Washington o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken. "Espero que possamos encontrar uma solução satisfatória", acrescentou.
O Presidente dos EUA, Joe Biden, disse recentemente que Israel arrisca perder o "apoio" da comunidade internacional devido aos seus bombardeamentos "cegos" sobre a Faixa de Gaza, dando a entender que Washington poderia deixar passar esta resolução, apesar da oposição do seu aliado israelita.
Hoje, o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu excluiu de novo qualquer cessar-fogo na Faixa de Gaza antes da "eliminação" do Hamas.
À semelhança dos anteriores textos criticados por Israel e Estados Unidos, o último projeto de resolução não designa o Hamas, criticando "todos os ataques indiscriminados contra civis" e "todos os atos de terrorismo", e solicita a libertação dos reféns.
A recente guerra entre Israel e o Hamas foi desencadeada após um ataque sem precedentes do movimento islamita palestiniano em território israelita em 07 de outubro.
No total, 1.140 pessoas, na maioria civis, foram mortas nesse dia, segundo uma contagem da agência noticiosa AFP a partir dos últimos números oficiais israelitas. Cerca de 240 civis e militares foram sequestrados, com Israel a indicar que 127 permanecem em Gaza.
Em represália, Israel, que prometeu destruir o movimento islamita, bombardeia desde 07 de outubro a Faixa de Gaza, onde segundo o governo local do Hamas já foram mortas cerca de 20.000 pessoas, incluindo 8.000 crianças e 6.200 mulheres.
Desde 07 de outubro, mais de 280 palestinianos também já foram mortos pelo Exército israelita e por ataques de colonos na Cisjordânia e Jerusalém leste, ocupados pelo Estado judaico.
As autoridades israelitas indicaram hoje que o seu Exército perdeu 134 homens desde o início da ofensiva terrestre na Faixa de Gaza, em 27 de outubro.
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