Duas explosões atingiram, esta quarta-feira, um evento de homenagem ao general iraniano Qassem Soleimani, que foi morto em 2020, no Iraque, por um ataque com drone dos EUA. O caso aconteceu perto da mesquita Saheb al-Zaman, em Kerman, no sul do Irão e foi descrito como um ato terrorista por Rahman Jalali, vice-governador da província de Kerman.
Foi declarado luto nacional na quinta-feira, na sequência das explosões em que morreram, pelo menos, 95 pessoas, número que foi revisto em baixa, ficando feridas pelo menos 141.
O mundo tem-se, então, feito ouvir na condenação ao ataque, cujos autores são ainda desconhecidos oficialmente, referindo-se a eles os meios iranianos apenas como "terroristas". Duas bombas colocadas em malas terão sido detonadas à distância.
A União Europeia, por exemplo, declarou o ataque um "ato de terror", condenando-o. "Este ato de terror causou um número chocante de mortes e feridos civis. Os nossos pensamentos agora estão com as vítimas e as suas famílias. Os autores devem ser responsabilizados", lê-se num comunicado citado pela agência Al Jazeera.
Aliás, a mesma agência cita também o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, que ofereceu as suas condolências às famílias das vítimas, "mártires da mesma causa, da mesma batalha que estava a ser travada pelo comandante Qassem Soleimani". A ele juntou-se o ayatollah Ali Khamenei, líder supremo da Revolução Islâmica, que prometeu "uma resposta dura", em comunicado.
À lista de entidades que condenaram o ataque juntou-se, também, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, esperando que "Deus tenha misericórdia sobre aqueles que perderam as suas vidas nos ataques", numa mensagem no X (antigo Twitter), e o presidente russo, Vladimir Putin, que disse que "o homicídio de pessoas pacíficas que visitavam o cemitério é chocante pela sua crueldade e cinismo", citado pela Al Jazeera.
İran’ın Kirman eyaletinde gerçekleştirilen menfur terör saldırılarından derin üzüntü duyduk. Saldırılarda hayatını kaybedenlere Allah’tan rahmet, yaralananlara acil şifalar diliyorum.
— Recep Tayyip Erdoğan (@RTErdogan) January 3, 2024
Dost ve kardeş İran halkına başsağlığı dileklerimi iletiyorum.
Quem estará por detrás do ataque?
Sobre os autores deste ataque, no entanto, ainda pouco é sabido, numa altura em que as tensões no Médio Oriente têm vindo a crescer na sequência do conflito armado entre Israel e o Hamas.
O presidente iraniano, Ebrahim Raisi, emitiu um comunicado onde garante, "sem dúvida", que os autores deste "ato covarde" serão em breve "identificados e punidos pelo seu ato hediondo". "Os inimigos da nação deveriam saber que tais ações nunca poderão perturbar a sólida determinação da nação iraniana", disse.
A Al Jazeera cita um professor de Estudos do Médio Oriente na Universidade de Teerão, que coloca, também, a principal questão do momento: "Quem foi?".
"O presidente [Ebrahim Raisi] falará, claro, sobre vingança contra aqueles que o fizeram, mas a questão permanece – quem foi? O ISIS mostrou que está disposto a fazer isto [matar um grande número de civis]. Israel poderia ter querido intensificar a escalada contra o Irão para forçá-lo a fazer algo que arrastasse os Estados Unidos [para um conflito] contra o Irão. Todas essas são possibilidades", disse Hassan Ahmadian.
Soleimani, o comandante da Força Qods, ícone da teocracia iraniana
Qassem Soleimani viu o fim da sua vida chegar abruptamente aos 62 anos, em janeiro de 2020, num ataque com drone comandado pelos Estados Unidos, no Iraque. A sua morte representa um ponto de alta tensão nas relações entre os Estados Unidos e o Médio Oriente, pois era uma figura-chave do regime iraniano.
Em simultâneo, o comandante da Força Qods, o ramo de operações no estrangeiro e unidade de elite dos Guardas da Revolução (exército ideológico da República Islâmica do Irão), era também uma figura pública muito popular no país.
Soleimani foi o arquiteto das atividades militares regionais do Irão e é aclamado como um ícone entre os apoiantes da teocracia iraniana, segundo a agência norte-americana AP.
A sua popularidade atravessa fronteiras, e quem o afirmou foi a Guarda Revolucionária do Irão, em dezembro de 2023, quando disse que os ataques perpetrados a 7 de outubro pelo Hamas em Israel, espoletando uma escala da violência na região, foram "uma das vinganças" pela morte de Soleimani.
Pode espreitar na galeria que acompanha esta notícia várias imagens do resultado das duas explosões que vitimaram pelo menos 95 pessoas em Kerman.
[Notícia atualizada às 10h21 de dia 4 de janeiro]
Leia Também: Irão: Luto nacional por mortos em ataques durante homenagem a general