A África do Sul acusou Israel de genocídio na Faixa de Gaza e exigiu que o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) ordenasse a suspensão imediata da campanha militar israelita no enclave palestiniano.
Neste que é o primeiro de dois dias de audiências no tribunal superior da Organização das Nações Unidas (ONU), a África do Sul afirmou que a ofensiva de Israel, que provocou uma enorme destruição e, até agora, matou mais de 23 mil pessoas em Gaza, tinha como objetivo provocar "a destruição da população" de Gaza.
"A intenção de destruir Gaza tem sido alimentada ao mais alto nível do Estado", afirmou Tembeka Ngcukaitobi, advogado do Supremo Tribunal da África do Sul, citado pela agência Reuters, salientando que os líderes políticos e militares de Israel, incluindo o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, estão entre "os incitadores do genocídio".
"Isso é evidente na forma como este ataque militar está a ser conduzido", acrescentou.
"A hipocrisia da África do Sul grita aos céus", acusa Netanyahu
Israel rejeitou as acusações de genocídio, considerando-as falsas e sem fundamento.
Netanyahu afirmou a África do Sul estava a falar em nome do Hamas e que a "hipocrisia" do país "grita aos céus".
"Hoje assistimos a um mundo virado do avesso. Israel é acusado de genocídio quando está a lutar contra o genocídio. A hipocrisia da África do Sul grita aos céus", afirmou o primeiro-ministro israelita através de um comunicado citado pelo The Guardian.
"Israel está a lutar contra terroristas que cometeram crimes contra a humanidade: chacinaram, violaram, queimaram, desmembraram, decapitaram... crianças, mulheres, idosos, jovens de ambos os sexos", afirmou ainda.
Netanyahu deixou ainda uma questão no ar: "Onde estava a África do Sul quando milhões de pessoas foram mortas ou arrancadas das suas casas na Síria e no Iémen, por quem? Por parceiros do Hamas".
Nesta sequência, o líder israelita promete "continuar a lutar contra os terroristas" do Hamas até "à vitória total".
O que está em causa?
A queixa apresentada pela África do Sul argumenta que "Israel se envolveu, está a envolver-se e corre o risco de continuar a envolver-se em atos genocidas contra o povo palestiniano em Gaza".
Para Pretória, estas ações são levadas a cabo "com a intenção específica" de "destruir os palestinianos como parte de um grupo nacional, racial e étnico".
Entretanto, a presidente do Parlamento Europeu solicitou ao Tribunal Penal Internacional medidas provisórias para garantir a proteção da população palestiniana contra danos "graves e irreparáveis".
Na mesma nota, a presidente do Parlamento Europeu referiu-se à Convenção sobre o Genocídio, após o que Israel assegurou que se defenderia das acusações.
O porta-voz do governo israelita, Eylon Levy, acusou a África do Sul de "dar cobertura política e jurídica ao massacre de 07 de outubro" do ano passado.
"Asseguramos aos dirigentes sul-africanos: a história julgar-vos-á e julgar-vos-á sem piedade", afirmou, sublinhando que o Hamas "perpetrou um ato de genocídio em solo israelita" durante os ataques.
O Exército israelita lançou uma ofensiva contra o enclave palestiniano na sequência de ataques do Hamas que causaram cerca de 1.200 mortos e quase 240 raptados.
As autoridades do território palestiniano, controlado pelo Hamas, registaram até agora 23.300 palestinianos mortos na sequência da ofensiva israelita, além de mais de 325 mortos em operações das forças de segurança e ataques de colonos na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental.
Leia Também: Tribunal Internacional inicia julgamento de acusação de genocídio em Gaza